domingo, 23 de maio de 2021

Viola caipira no Brasil: uma história da técnica artesanal e cultura popular

 

O presente estudo foca-se na trajetória percorrida pela viola caipira no Brasil, desde sua chegada com os colonizadores portugueses até os dias atuais; concentramo-nos em verificar a afirmação do músico Fernando Deghi: “Este é o século da viola”. Para isso, foram reunidas informações que apontam para o fato de a viola estar ou não em ascensão. Nossa perspectiva está pautada no viés da Luteria, e na Análise Dialógica do Discurso, com a teorias de Mikhail Bakhtin e o Círculo. 

O universo da viola caipira tem sido, até o final do século XX, objeto de pouco estudo. O instrumento chega ao Brasil no século XVI, mas se mantém em cenário não erudito, ganhando cadeira em conservatório de música apenas em 1985. Esse afastamento está mormente ligado ao fato de a viola caipira ter sido predominantemente um instrumento de uso popular, sobremodo das culturas de classe economicamente menos privilegiadas e distantes do modo de vida das cidades grandes sendo, não raras vezes, objeto de depreciação, sátira e desqualificação. Em 1930, com as primeiras gravações de músicas de viola e do interesse de emissoras de rádio pela música caipira, houve um primeiro período moderno de apreço ao instrumento. Nos anos 1980, surge um grande interesse na composição e execução de música instrumental para viola, abrindo assim o leque de uso da viola e atraindo novos personagens para essa história. 

Com o presente trabalho, argumenta-se que a viola está, sim, em ascensão. A trajetória da viola se dá em um ambiente musical majoritariamente monológico, abafando a sua voz, mas essa voz tem se fortalecido e talvez venha a se posicionar polifonicamente junto aos outros instrumentos. 


Viva o Boi: análise comparada das manifestações culturais dos trabalhadores catarinenses e pernambucanos no século XIX e início dos XX


Neste artigo Beatriz Busantin propõe uma análise comparada do folguedo Bumba meu Boi dos estados de Pernambuco e de Santa Catarina que tinha como sujeitos trabalhadores negros, brancos e mestiços. Cada um com sua particularidade, a intenção é uma investigação em História social sobre a cultura dos trabalhadores do século XIX e início do XX que seja atenta às realizações festivas dos trabalhadores escravos e livres como indícios da ação de resistência cultural, social e política.

Para acessar o artigo completo: 


Fonte Figura: https://www.greenmebrasil.com/viver/arte-e-cultura/8954-bumba-meu-boi-patrimonio-humanidade/

quarta-feira, 19 de maio de 2021

PALAVRA ENCANTADA: Bois do Brasil

 

 Naquele canto desconsertante

seguia a tropa fugaz e enebriada pelo canto do vaqueiro

Boi anil, da cor da terra e encarnado

Boi de fita e chifre, de laço e polaco

Com olhar de bicho manhoso e de estrela na testa,

 levam cores para o monocromático sertão...


Bois do Brasil
Frederico do Valle

segunda-feira, 10 de maio de 2021

Os Sons do Rosário - O Congado dos Arturos e Jatobá

 O som é seco como o chão sob os pés calçados em sapatos simples. Pelas ruas, com repiques de tambores e chiados de gungas, brasileiros cantam a própria fé. Na companhia do grupo, vai a pesquisadora Glaura Lucas, buscando compreender os ritmos musicais das comunidades afro-brasileiras dos Arturos e do Jatobá. O resultado das observações está no livro Os sons do Rosário - o Congado mineiro dos Arturos e Jatobá, que acaba de ser lançado pela Editora UFMG.



Em 360 páginas, Glaura mostra como os rituais do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, ancorados na tradição africana, se manifestam pela música no interior mineiro. "Na África, orar pela música faz parte da tradição", explica, ressaltando que isso dá caráter sagrado aos instrumentos, que se transformam em elo entre o homem e o divino. Cada grupo, entretanto, aproxima-se da divindade com suas próprias notas, o que gera parâmetros musicais peculiares e identidades comunitárias. "Arturos e Jatobá, por exemplo, são grupos musicais próximos, mas com sotaques particulares", frisa.

De acordo com a pesquisadora, o Congado é composto, em linhas gerais, por manifestações africanas, predominantemente de origem bantu, mas com sincretismos. "O código musical que transita nas festas deriva de interações culturais bantu, reelaboradas no Brasil pelo contato com europeus, com outras culturas negras e também com indígenas locais", diz. Segundo Glaura, a expressão religiosa do Congado desenvolveu-se dentro do sistema escravista brasileiro, como resultado do violento processo de imposição cultural sofrido pelos negros: "Em decorrência dos contatos culturais, eles reelaboraram valores alheios à sua concepção de mundo, reinterpretando o catolicismo por meio de sua própria cosmovisão".

GUARDAS
De origem semelhante, tanto Arturos quanto Jatobá contam com os mesmos tipos de guardas: Congo, Moçambique e Candombe. "As guardas são grupos específicos com características e funções próprias", diz Glaura. Ela afirma que, quanto ao ritmo, o Congo desfruta de maior liberdade, explora sons mais variados. Já o Moçambique está mais preso a padrões básicos. "Isso se explica pelo fato de eles serem os responsáveis pela condução de reis e rainhas". O Candombe é um grupo de ritual interno, que não percorre as ruas tocando instrumentos. Externamente, ele é representado pelo Moçambique.

Como fruto de estudo etnomusical, o livro apresenta uma avaliação da música dentro de seu contexto social e cultural. Para a autora, essa é a maior contribuição da obra: "Não é uma simples descrição dos ritmos musicais, mas o que a música representa para as pessoas que a produzem", relata.

Glaura Lucas diz que, com a mente voltada para os "nego véio" e para os santos católicos, os congadeiros cantam, tocam e dançam, reverenciando Nossa Senhora do Rosário, os antepassados escravos e São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora das Mercês. Segundo ela, os congadeiros buscam "na beira do mar" a origem, o princípio, a fundamentação mítica que conta a aparição de Nossa Senhora do Rosário para os negros. "A devoção dos negros africanos à Nossa Senhora do Rosário é atribuída à aparição e resgate de uma imagem de santa, em Argel, na Argélia", afirma Glaura. Ela explica que a lenda foi reelaborada e transmitida de geração a geração, da África para o Brasil, e hoje assume várias versões regionais: "Entretanto, todas têm como ponto convergente a identificação de Nossa Senhora do Rosário com o sofrimento dos negros, com quem ela opta por ficar".

Os rituais do Reinado de Nossa Senhora do Rosário se cumprem pela música, cuja força emana dos sons dos instrumentos sagrados, dinamizando os textos cantados e os gestos do corpo, num ato único de oração. Vencedora do Prêmio Sílvio Romero em 1999, está obra faz uma análise do Congado das Irmandades de Contagem (Arturos) e do Jatobá a partir de sua paisagem sonora e musical, com ênfase na linguagem rítmica dos instrumentos sagrados, por ser essa a referência musical que mais identifica cada grupo – Congo, Moçambique e Candombe.
 
 

Texto extraído de: https://www.ufmg.br/boletim/bol1378/oitava.shtml

A Festa do Rosário do Serro e a complexidade da fé retratadas em livro

 “O que não está escrito, o vento leva”. Foi pensando nessa sábia frase de sua mãe, Dona Lucinha, que a historiadora Márcia Clementino Nunes resolveu contar a história da fé de negros escravos em Nossa Senhora do Rosário. A santa faz parte de uma tradição cristã e branca, mas é considerada protetora dos pretos de Minas Gerais.




A narrativa construída pela historiadora explica a concretização de um antigo rito, a tricentenária Festa do Rosário, que hoje é patrimônio cultural da história de Minas e do Brasil. O livro Festa do Rosário do Serro ilustra a complexidade dessa fé, traduzida em danças, batidas de tambor, fantasias e música.
A comemoração, que surgiu como uma forma de resistência à escravidão, é um teatro que narra a história colonizadora do estado e do país. A tradição reúne catopês, caboclos e marujos, grupos que dançam por devoção a Nossa Senhora do Rosário.

 “Como um rio, o negro foi se adaptando e achando caminhos, até desaguar num mar de superação da tamanha desumanidade gerada pela escravidão”. A reflexão é da historiadora Márcia Clementino Nunes, que há mais de 30 anos investiga a complexidade de um dos festejos mais antigos do povo negro no Brasil. A pesquisa resultou em “Festa do Rosário do Serro”, que trata da celebração tricentenária na cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte. 

Com 224 páginas, o livro ilustra em imagens e texto a fé dos negros escravos na Nossa Senhora do Rosário, santa de tradição cristã e branca, que se transformou em protetora dos pretos em Minas Gerais. “A historiografia trata a festa como uma expressão do negro que se adaptou ao sistema, que encontrou uma santa branca. Quando fui estudar história, fiquei me perguntando: ‘será que a festa tem algo mais a dizer que essa leitura de cima para baixo?’”, diz a serrana, ressaltando que o livro traz fotos de Miguel Aun. 

A partir daí, Nunes passou a pesquisar a representação teatral do festejo, que narra a história colonizadora de Minas e do Brasil. Nela, três grupos dançam pela devoção à santa – catopês, caboclos e marujos, representando negros, índios e brancos, etnias básicas da formação brasileira. 

“O negro escravizado foi apartado de sua terra natal e separado dela por um mar atlântico. Um caminho sem volta, cujas possibilidades eram apenas o suicídio, a fuga para os quilombos ou a adaptação”, explica. “Então, pelos que tentaram se adaptar, foi criado esse ritual complexo e maravilhoso, uma expressão da voz do escravizado”. 

Nunes destaca que, por meio de danças, tambores arcos e flechas, a Festa do Rosário retrata o mundo colonial em que os negros escravizados viviam – colocando-os, porém, como protagonistas. “É um ritual que recupera as estruturas sociais rompidas pela escravidão, recompondo simbolicamente famílias e costumes de uma forma subliminar e sutil, já que não havia outra saída”, afirma. “Sendo reis e rainhas, buscavam recuperar sua dignidade; dançando e batendo tambores retomavam suas estruturas culturais. É um modo de escape do desejo de ter a liberdade e a dignidade de volta”.



Texto extraído de:
https://ufmg.br/comunicacao/noticias/livro-registra-historia-e-tradicao-da-festa-de-nossa-senhora-do-rosario
https://www.hojeemdia.com.br/almanaque/livro-revela-nuances-da-festa-do-ros%C3%A1rio-do-serro-lan%C3%A7amento-acontece-nesta-ter%C3%A7a-1.678156

 

Cadernos do Patrimônio: Folias de Minas Gerais


Documento na íntegra disponível em: http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/publicacoes/cadernos-do-patrimonio/Publication/20-Folias-de-Minas 


Cadernos do Patrimônio: Violas de Minas