http://repositorio.utfpr.edu.br:8080/jspui/bitstream/1/3831/1/CT_PPGTE_M_Schafhauser%2C%20Lucas%20Guilherme_2018.pdf
domingo, 23 de maio de 2021
Viola caipira no Brasil: uma história da técnica artesanal e cultura popular
http://repositorio.utfpr.edu.br:8080/jspui/bitstream/1/3831/1/CT_PPGTE_M_Schafhauser%2C%20Lucas%20Guilherme_2018.pdf
Viva o Boi: análise comparada das manifestações culturais dos trabalhadores catarinenses e pernambucanos no século XIX e início dos XX
quarta-feira, 19 de maio de 2021
PALAVRA ENCANTADA: Bois do Brasil
Naquele canto desconsertante
seguia a tropa fugaz e enebriada pelo canto do vaqueiro
Boi anil, da cor da terra e encarnado
Boi de fita e chifre, de laço e polaco
segunda-feira, 10 de maio de 2021
Os Sons do Rosário - O Congado dos Arturos e Jatobá
O som é seco como o chão sob os pés calçados em sapatos simples. Pelas ruas, com repiques de tambores e chiados de gungas, brasileiros cantam a própria fé. Na companhia do grupo, vai a pesquisadora Glaura Lucas, buscando compreender os ritmos musicais das comunidades afro-brasileiras dos Arturos e do Jatobá. O resultado das observações está no livro Os sons do Rosário - o Congado mineiro dos Arturos e Jatobá, que acaba de ser lançado pela Editora UFMG.
De acordo com a pesquisadora, o Congado é composto, em linhas gerais, por manifestações africanas, predominantemente de origem bantu, mas com sincretismos. "O código musical que transita nas festas deriva de interações culturais bantu, reelaboradas no Brasil pelo contato com europeus, com outras culturas negras e também com indígenas locais", diz. Segundo Glaura, a expressão religiosa do Congado desenvolveu-se dentro do sistema escravista brasileiro, como resultado do violento processo de imposição cultural sofrido pelos negros: "Em decorrência dos contatos culturais, eles reelaboraram valores alheios à sua concepção de mundo, reinterpretando o catolicismo por meio de sua própria cosmovisão".
GUARDAS
De origem semelhante, tanto Arturos quanto Jatobá contam com os mesmos tipos de guardas: Congo, Moçambique e Candombe. "As guardas são grupos específicos com características e funções próprias", diz Glaura. Ela afirma que, quanto ao ritmo, o Congo desfruta de maior liberdade, explora sons mais variados. Já o Moçambique está mais preso a padrões básicos. "Isso se explica pelo fato de eles serem os responsáveis pela condução de reis e rainhas". O Candombe é um grupo de ritual interno, que não percorre as ruas tocando instrumentos. Externamente, ele é representado pelo Moçambique.
Como fruto de estudo etnomusical, o livro apresenta uma avaliação da música dentro de seu contexto social e cultural. Para a autora, essa é a maior contribuição da obra: "Não é uma simples descrição dos ritmos musicais, mas o que a música representa para as pessoas que a produzem", relata.
Glaura Lucas diz que, com a mente voltada para os "nego véio" e para os santos católicos, os congadeiros cantam, tocam e dançam, reverenciando Nossa Senhora do Rosário, os antepassados escravos e São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora das Mercês. Segundo ela, os congadeiros buscam "na beira do mar" a origem, o princípio, a fundamentação mítica que conta a aparição de Nossa Senhora do Rosário para os negros. "A devoção dos negros africanos à Nossa Senhora do Rosário é atribuída à aparição e resgate de uma imagem de santa, em Argel, na Argélia", afirma Glaura. Ela explica que a lenda foi reelaborada e transmitida de geração a geração, da África para o Brasil, e hoje assume várias versões regionais: "Entretanto, todas têm como ponto convergente a identificação de Nossa Senhora do Rosário com o sofrimento dos negros, com quem ela opta por ficar".
A Festa do Rosário do Serro e a complexidade da fé retratadas em livro
“O que não está escrito, o vento leva”. Foi pensando nessa sábia frase de sua mãe, Dona Lucinha, que a historiadora Márcia Clementino Nunes resolveu contar a história da fé de negros escravos em Nossa Senhora do Rosário. A santa faz parte de uma tradição cristã e branca, mas é considerada protetora dos pretos de Minas Gerais.
A comemoração, que surgiu como uma forma de resistência à escravidão, é um teatro que narra a história colonizadora do estado e do país. A tradição reúne catopês, caboclos e marujos, grupos que dançam por devoção a Nossa Senhora do Rosário.
Com 224 páginas, o livro ilustra em imagens e texto a fé dos negros escravos na Nossa Senhora do Rosário, santa de tradição cristã e branca, que se transformou em protetora dos pretos em Minas Gerais. “A historiografia trata a festa como uma expressão do negro que se adaptou ao sistema, que encontrou uma santa branca. Quando fui estudar história, fiquei me perguntando: ‘será que a festa tem algo mais a dizer que essa leitura de cima para baixo?’”, diz a serrana, ressaltando que o livro traz fotos de Miguel Aun.
A partir daí, Nunes passou a pesquisar a representação teatral do festejo, que narra a história colonizadora de Minas e do Brasil. Nela, três grupos dançam pela devoção à santa – catopês, caboclos e marujos, representando negros, índios e brancos, etnias básicas da formação brasileira.
“O negro escravizado foi apartado de sua terra natal e separado dela por um mar atlântico. Um caminho sem volta, cujas possibilidades eram apenas o suicídio, a fuga para os quilombos ou a adaptação”, explica. “Então, pelos que tentaram se adaptar, foi criado esse ritual complexo e maravilhoso, uma expressão da voz do escravizado”.
Nunes destaca que, por meio de danças, tambores arcos e flechas, a Festa do Rosário retrata o mundo colonial em que os negros escravizados viviam – colocando-os, porém, como protagonistas. “É um ritual que recupera as estruturas sociais rompidas pela escravidão, recompondo simbolicamente famílias e costumes de uma forma subliminar e sutil, já que não havia outra saída”, afirma. “Sendo reis e rainhas, buscavam recuperar sua dignidade; dançando e batendo tambores retomavam suas estruturas culturais. É um modo de escape do desejo de ter a liberdade e a dignidade de volta”.
Cadernos do Patrimônio: Folias de Minas Gerais
Documento na íntegra disponível em: http://www.iepha.mg.gov.br/index.php/publicacoes/cadernos-do-patrimonio/Publication/20-Folias-de-Minas