Dia 6 de janeiro é dedicado a
Santos Reis. Mais propriamente, é o dia da festa de Santos Reis, com bandeiras,
instrumentos musicais, hinos religiosos, cantadores e rezadores, recitação e
terço cantado, tudo a serviço da manifestação expressiva de religiosidade do
povo em geral. As comemorações
seguem o seu ritual próprio e se popularizam sempre mais, tanto na zona rural
quanto nas comunidades periféricas urbanas.
São festejos de tal forma interligados à nossa cultura popular que nem
passa pela nossa cabeça das pessoas mais sensatas tecerem qualquer
questionamento a respeito. Sabe-se que é sempre bom aprender um pouco mais do
manancial da história, não só para simples e proveitoso conhecimento, como
também para enfatizar valores intrínsecos, até mesmo da espiritualidade, que
nos fazem tão bem.
Em diversos Estados brasileiros, e em muitos países, os Santos Reis são
homenageados com as famosas Folias de Reis. Trata-se de uma
festa católica que reproduz e celebra a visita dos Três Reis
Magos ao Deus Menino, que nasceu em Belém.
Uma vez fixado o nascimento de Jesus Cristo na data de 25
de dezembro, adotou-se a data da visitação dos Reis Magos como sendo o
dia 6 de janeiro, que, em alguns países de origem latina, especialmente
aqueles cuja cultura tem origem espanhola, passou a ser das mais importantes
datas comemorativas do catolicismo, ao lado do próprio Natal.
No Brasil, as festividades apresentam-se com poucas variações, dependendo
dos costumes de cada região. Normalmente, a linha mestra do ritual é preservada
em todas as localidades. No Estado do Rio de Janeiro, os grupos realizam
folias até o dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião,
o padroeiro da cidade do Rio de Janeiro. É a tradição do lugar.
Na cultura tradicional brasileira, os festejos de Natal eram
comemorados por grupos que visitavam as casas, tocando músicas alegres em
louvor aos Santos Reis e ao nascimento de Cristo. Essas manifestações festivas
estendiam-se até a data consagrada aos Reis Magos: 6 de janeiro.
Sabe-se que tais festejos são uma tradição originária da Espanha e que, em
nosso País, ganhou força especialmente no século XIX, mantendo-se viva a
prática festiva em muitas localidades, sobretudo nas pequenas cidades dos
Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Espírito
Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás.
As rezas são quase sempre cantadas, oportunidade em que os foliões rogam a
Deus pelo bem das famílias, dos moradores do lugar, das crianças, dos adultos,
tudo com fervoroso pedido a Deus para que nunca falte nada aos donos da casa
acolhedora do Pouso da Folia.
Há também efusivos agradecimentos. Os foliões cantam agradecendo aos
moradores que ofereceram a hospedagem e a Deus pela comida, pela fartura da
mesa, pelas criações do terreiro e pela vida de todos.
Observam-se dois momentos que chamam bastante atenção na Folia: a chegada
e a saída. Os foliões, quando chegam, pedem licença para entrar pela casa
adentro e cantar em homenagem ao Menino Jesus, exibindo a bandeira do Deus
Menino para todos os presentes reverenciarem. Terminada a cantoria, é servida a
refeição com muita fartura, normalmente o jantar. Mais tarde, à noite,
acontecem os festejos sociais, com dancinha e catira, tudo com muito respeito.
No outro dia, após o café, é a hora da cantoria de agradecimento e de
despedida, seguindo-se a comitiva para outro pouso já programado.
Quanto aos Santos Reis e a origem da espiritualidade popular, narra o
evangelista Lucas (2, 8-10) que havia uns pastores (Gaspar, Baltazar e
Melchior), apascentando o seu rebanho, durante a vigília da noite. Nisso,
apareceu-lhes um anjo, momento em que a glória de Deus refulgiu ao redor deles.
E anunciou-lhes que havia nascido o Salvador, na cidade de Davi. E lhes deu um
sinal: “achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”
(2,12).
Os magos, homens guerreiros, estudiosos da ciência e conhecedores dos
astros, empreendiam viagem como de costume. Um deles, Gaspar, eterno observador
do céu estrelado, percebeu o destaque de uma estrela que brilhava com grande
esplendor. De acordo com os conhecimentos astrológicos do mago, aquela estrela
era desconhecida de todos os astrólogos caldeus. Apresentava movimentação
irregular e dirigia-se para o ocidente.
Em Jerusalém, indagaram aqui e ali, mas ninguém soube informar onde havia
nascido o Salvador. Tão logo saíram da cidade, a estrela reapareceu. Eles
seguiram-na. “E eis que a estrela, que tinham visto no Oriente os foi
precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou” (Mt 2,9).
Os reis acompanharam-na, atraídos por uma força misteriosa. “Foram com grande
pressa e acharam Maria e José e o menino deitado na manjedoura. Vendo-o,
contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que os
ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores. Maria conservava
todas essas palavras, meditando-as em seu coração” (Lc 2,16-19).
Ao encontrarem o Recém-nascido, ajoelharam-se e adoraram-No como os
príncipes do oriente adoravam os seus deuses. E ofereceram ao Filho de Maria,
como tributo de vassalagem, ouro, incenso e mirra.
Concluída a visita, informa o texto bíblico que “Voltaram os pastores,
glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto” (Lc 2,20),
atitude que deve ser copiada por todo cristão, quando, recebida uma graça,
jamais se esquecer de glorificar e louvar a Deus por tudo o que lhe fora
concedido pelo Senhor.
São numerosas as tentativas dos cientistas de explicar o fenômeno da
estrela dos Magos: fenômeno sobrenatural, cometa ou a aproximação dos planetas
Júpiter e Saturno ocorrida no ano 7 a. C. Uma via desses estudos pretende
revelar que os estudiosos daquela época (sábios, magos e sacerdotes), da antiga
Babilônia, há bastante tempo já estudavam a posição dos astros, interpretando a
vontade dos deuses e fazendo previsões. Para eles, Júpiter era a Estrela dos
Povos Orientais e Saturno, a Estrela dos Povos Ocidentais. A constelação dos
Peixes era o símbolo da região do Mediterrâneo. A constante movimentação desses
dois planetas, no céu, mereceu observação especial, e sua conjugação recebeu
deles a seguinte interpretação: “Júpiter e Saturno, representando toda a
humanidade, se reúnem e migram para a constelação dos Peixes (o país dos judeus);
permanecem algum tempo no arco oriental, retornam ao arco ocidental, e
permanecem quase estáticos sobre Belém, anunciando o novo soberano. Depois
prosseguem seu caminho” (Artigo de Maurus Schneider, publicado na revista
Cidade Nova, Vargem Grande Paulista-SP, edição de jan/fev 2000).