sexta-feira, 14 de março de 2025

ARTES & OFÍCIOS: Pau a pique

 

As primeiras casas construídas no Brasil foram de taipa, sistema de construção que usa o barro molhado. Isolante térmico e que não pega fogo com facilidade, a taipa é utilizada na construção desde a antiguidade no mundo. Não existe consenso entre os historiadores sobre a origem desse modo de construção no Brasil. Entende-se que possa ser resultado da simbiose de matrizes portuguesas, indígenas e africanas. 

No Brasil, esse tipo de construção foi largamente utilizado desde o período colonial até praticamente o início do século 20, e neste último século, notadamente nas áreas rurais. O uso de paredes de pau-a-pique era muito comum por ser um estilo de construção feito com materiais encontrados na própria natureza. São muitas vezes associadas apenas às residências rurais já que a maioria da população vivia no campo. 

Existem dois tipos de técnicas de taipa, a taipa de mão, igualmente denominada de pau-a-pique, a taipa de sopapo, a taipa de sebe e o barro armado. É indevidamente denominada de casa de estuque no noroeste fluminense, sendo incorreto, pois no estuque entra outra composição de materiais. Trata-se de uma técnica que consiste no entrelaçamento de madeira ou bambu ou pau roliço ou taquara, na vertical, fixados no solo. Cipós ou outro material amarram a trama. 

O barro e a água são amassados com os pés ou com o pilão até se obter uma massa compacta que é misturada a fibras vegetais, a exemplo do capim ou da palha. Alguns acrescentavam sangue e estrume de gado. Os vãos são preenchidos com essa mistura. Em lados opostos, na parede interna e externa, ficavam duas pessoas e ambas atiravam o barro ao mesmo tempo contra a estrutura de madeira formando as paredes da casa.

Quando a massa socada atinge mais da metade da parede recebe, transversalmente, pequenos paus roliços envolvidos em folhas, geralmente de bananeiras, que produzem orifícios cilíndricos para o formato de novas paredes. Essa técnica é usada para formar tanto as paredes internas como as externas. Uma base de pedra é colocada sob a casa, nas extremidades, afastando-a do solo aproximadamente entre 50 a 60 centímetros para evitar a umidade do chão.

No passado, as pessoas passavam o dia inteiro no campo cuidando da lavoura desde as primeiras horas do dia. Quando retornavam às suas casas faziam uma refeição e iam logo em seguida repousar. Os corpos cansados da labuta no amanho da terra, a ausência de luz, o custo de acender os lampiões, tudo isso contribuía para que essas residências fossem apenas dormitórios. 

O telhado é formado normalmente por palhas de sapê e as paredes não se estendem até o teto, possivelmente para facilitar a circulação do ar. A casa poderia receber acabamento alisado ou ainda caiação. O cal servia para evitar a proliferação de insetos. A construção de pau-a-pique quando mal executada pode se degradar em pouco tempo, apresentar rachaduras e fendas, se tornando alvo de roedores e insetos que se instalam nas aberturas. Por isso, esse tipo de residência é geralmente associado ao barbeiro, inseto transmissor da doença de chagas. Todavia, quando devidamente rebocada não há o perigo da instalação do barbeiro nas paredes. 

Curiosamente, esse tipo de construção virou moda e muitas pessoas atualmente optam por casas de pau-a-pique por serem ecologicamente corretas. Não obstante serem providas de algum conforto revela uma memória afetiva de como viveram os nossos antepassados.  



Texto extraído de: https://acervo.avozdaserra.com.br/colunas/historia-e-memoria/casas-de-pau-pique-uma-memoria-afetiva
Fonte Imagem: https://www.ecologs.com.br/duvidas-sobre-madeiras/pau-a-pique/

 


terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Inventário das festas na Baía de Todos os Santos

 

Festas religiosas, étnicas, de passagem de ano; procissões marítimas; ciclos natalino, da Semana Santa e junino; lavagens de igrejas, praças, escadarias, ruas, becos, apicuns, “coroas”; presentes de Iemanjá; carnavais e micaretas; festivais culturais e gastronômicos; Independência da Bahia; campeonatos e corridas de canoas e “canoinhas”; marujadas e cheganças; cavalgadas; negro fugido; carurus de São Cosme e São Damião; bumba-meu-boi e “burrinhas”; peditórios; fanfarras e filarmônicas. Este livro-inventário apresenta a diversidade festiva nos municípios do entorno da Baía de Todos os Santos. Dirigido não apenas ao público acadêmico, mas a todos os amantes da fruição festiva, a obra contribui para valorizar as incontáveis manifestações culturais que ocorrem na “sincrética” região da Bahia.



Festas na Baía de Todos os Santos - visibilizando diversidades, territórios , sociabilidades

 


A coletânea apresenta um olhar singular em relação ao cenário festivo ao redor da Baía de Todos os Santos através de pesquisas realizadas sobre as mais tradicionais e ímpares festas, a exemplo da Mudança do Garcia, da festa de encontros religiosos em São Lázaro e da tradição dos mascarados de Maragojipe, sem desprezar os aspectos do local e global no contexto de globalização.




quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Sincretismo religioso no Candomblé


Os Orixás, representantes das forças naturais e dos ancestrais africanos, foram habilmente sincretizados com os santos católicos. Essa fusão permitiu que os escravos praticassem sua religião de forma camuflada...

Sincretismo Religioso no Candomblé: Uma Jornada de Resistência e Diversidade, O Candomblé, uma religião afro-brasileira, é mais do que uma prática espiritual; é um testemunho da resiliência dos povos africanos que, trazidos como escravos para o Brasil, forjaram uma conexão única entre suas tradições e as circunstâncias adversas do novo mundo.


ORIGENS E CULTO AOS ORIXÁS

O Candomblé cultua os Orixás, deidades que personificam as forças da natureza e os ancestrais. Cada Orixá possui uma identidade distintiva, correlacionada a uma cor, símbolo, dia da semana, comida e, notavelmente, a um santo católico. Essa associação é um exemplo vívido de sincretismo religioso, um fenômeno nascido da repressão e intolerância enfrentadas pelos praticantes do Candomblé durante o período colonial e pós-colonial no Brasil.


O SINCRETISMO RELIGIOSO NO CANDOMBLÉ: UM ATO DE RESISTÊNCIA

A imposição da conversão ao catolicismo não apagou as crenças originais dos escravos africanos. Em segredo, eles fundiram seus rituais com símbolos católicos, estabelecendo uma correspondência entre os Orixás e os santos. Essa prática não era apenas uma adaptação necessária; era um ato de resistência, permitindo que sua fé persistisse sob a fachada de uma nova aparência religiosa.


INFLUÊNCIAS CULTURAIS E ÉTNICAS NA FORMAÇÃO DO CANDOMBLÉ

A diversidade cultural e étnica dos escravos africanos, oriundos de diferentes nações, como nagôs, jejes, bantus, angolas e congos, desempenhou um papel vital no sincretismo do Candomblé. Cada nação contribuiu com suas próprias divindades, rituais e tradições, criando uma tapeçaria única que se adaptou ao contexto brasileiro. Além disso, o Candomblé absorveu elementos de outras religiões, como espiritismo, indigenismo e islamismo, ampliando ainda mais sua riqueza cultural.


PERSISTÊNCIA, PRESERVAÇÃO E CRIATIVIDADE AFRO-BRASILEIRA

O sincretismo religioso no Candomblé é uma narrativa de persistência e preservação da cultura afro-brasileira. Apesar das adversidades históricas e sociais, os praticantes conseguiram manter sua identidade e fé. O Candomblé, como resultado, não é apenas uma religião; é um testemunho vivo da pluralidade, dinamismo e criatividade que moldam a cultura afro-brasileira.



ORIXÁS SINCRETIZADOS UMA EXPRESSÃO VÍVIDA DE SINCRETISMO

Os Orixás, representantes das forças naturais e dos ancestrais africanos, foram habilmente sincretizados com os santos católicos. Essa fusão permitiu que os escravos praticassem sua religião de forma camuflada, associando Orixás a santos católicos com atributos semelhantes. Exemplos notáveis incluem:

Iemanjá, deusa dos mares, associada a Nossa Senhora da Conceição.

Iansã, deusa dos raios, vinculada a Santa Bárbara.

Xangô, deus do trovão, sincretizado com São Jerônimo ou São João.

Oxóssi, deus da caça, ligado a São Jorge ou São Sebastião.

Oxum, deusa do amor, associada a Nossa Senhora das Candeias ou Nossa Senhora Aparecida.

Ogum, senhor da guerra, sincretizado com São Jorge Guerreiro. 

Essas correspondências variam conforme a região, a nação e a tradição do Candomblé, exemplificando a riqueza da relação entre Orixás e santos.


SINCRETISMO RELIGIOSO NO BRASIL HOJE UMA CELEBRAÇÃO DE DIVERSIDADE

O sincretismo religioso transcende o Candomblé, tornando-se uma realidade que reflete a diversidade cultural do Brasil. Um país que recebeu povos de várias partes do mundo, essa nação sul-americana é um mosaico de crenças e práticas religiosas. Além do Candomblé, o sincretismo manifesta-se de diversas maneiras:


UMA HERANÇA DE RESILIÊNCIA E DIVERSIDADE RELIGIOSA

O Candomblé e a Umbanda, religiões afro-brasileiras que mesclam elementos de tradições africanas, catolicismo romano e espiritismo.

A Festa do Divino Espírito Santo, uma celebração católica que incorpora elementos das culturas indígena, africana e portuguesa.

A música popular brasileira, expressando influências de diferentes religiões na cultura nacional, como samba, axé, pagode, rap e reggae. 


CONCLUSÃO

O sincretismo religioso no Candomblé é mais do que um fenômeno histórico; é uma herança viva de resistência e resiliência cultural. A riqueza e complexidade do sincretismo religioso no Brasil refletem a habilidade do povo brasileiro de integrar diversas influências, construindo uma identidade religiosa única. Hoje, o sincretismo é celebrado como uma manifestação da diversidade cultural, enraizada na herança dos povos que contribuíram para a formação da nação brasileira.


Texto extraído de: https://erinle.com.br/sincretismo-religioso-no-candomble/

Fonte Imagem: https://erinle.com.br/sincretismo-religioso-no-candomble/