Antônio Poteiro
O termo “naif” (ingênuo ou
inocente, em francês) era frequentemente usado para classificar artistas e
obras de arte como ingênuos, devido aos processos autodidatas ou espontâneos,
que não seguem as regras tradicionais de representação de imagens, além de também
não estarem inseridos em ambientes acadêmicos e oficiais da arte.
O termo foi empregado pela primeira vez como uma crítica
negativa direcionada à produção do francês Henri Rousseau (1844 – 1910),
artista autodidata que iniciou a sua produção aos 40 anos e foi extremamente
reprovado devido à sua falta de adequação às tradições artísticas.
Apesar de ter sido rotulado como grotesco, diversos artistas
renomados como Robert Delaunay (1885 – 1941), Guillaume Apollinaire (1880 –
1918) e Pablo Picasso (1881 – 1973) valorizaram e elogiaram o trabalho de
Rousseau.
As obras do artista não eram aceitas no Salão de Paris,
fazendo com que Rousseau expusesse seu trabalho no Salon des Indépendants
(Salão dos Independentes). A partir disso, outros artistas autodidatas e
amadores começaram a expor suas produções no mesmo espaço.
Segundo o pesquisador Jacivaldo Machado (2017):
“Utilizando como fonte de inspiração o universo do imaginário
coletivo, a iconografia popular presente nas festas populares, as paisagens
regionais que mostram a flora, a fauna, aspectos arquitetônicos e a gente do
lugar, de forma idealizada, os naïfs retratam a vida cotidiana de espaços com
forte vínculo com o seu existir, sua arte faz alusão ao passado e presente como
forma de expressar a celebração da vida. Respaldados pela liberdade estética e
o fazer livre, os artistas naïfs resolvem as dificuldades técnicas sem o
auxílio de normas pré-estabelecidas, concebem e produzem a sua arte livre de
convenções ditadas pelo campo das artes visuais”.
Ciranda de São João - Bárbara Rochlitz
Através do tempo, os aspectos
criticados do estilo Naif tornaram-se razão de apreciação no universo das
artes. A legitimação e valorização da Arte Naif pelos circuitos tradicionais
fez com que artistas com formações eruditas se apropriassem das técnicas e procedimentos
característicos da estética Naif.
No século XX, a Arte Naif é reconhecida como uma modalidade
artística específica e se desenvolve no mundo todo, especialmente nos Estados
Unidos, no Haiti e na antiga Iugoslávia. No Brasil, artistas como Maria Auxiliadora
(1935 – 1974), Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), Djanira (1974 – 1990), José
Antonio da Silva (1909 – 1996), Maria do Santíssimo (1890 – 1974), entre
outros, foram grandes nomes da Arte Naif brasileira.
Características da Arte Naif:
Artistas que valorizam os
processos autodidatas ou espontâneos;
Expressão artística fundamentada
na criatividade e na originalidade dos artistas;
Valorização da iconografia
popular, como a fauna e flora, festas populares e o imaginário cultural;
Composição plana com traços sem
perspectivas e cores contrastantes;
Exuberância de detalhes;
Os artistas naïves utilizam de
suas experiências pessoais, advindas de seu convívio com o meio e com a cultura
geral, para a elaboração de suas obras.
Arte Naif brasileira
Crianças Brincando - Heitor dos Prazeres
Em 1969, o crítico de arte francês, Anatole Jakovsky já
constata a força do Naif no território nacional: “O Brasil representa, junto
com a França e com a Iugoslávia, um dos reservatórios mais ricos e variados da
Arte Naif no mundo.”
Conhecidos também como primitivistas, os artistas naïves
brasileiros são notáveis pelo autodidatismo e uma originalidade ímpar ao se
tratarem da representação de imaginários populares locais.
Através de técnicas únicas, o
artista naif brasileiro pinta a cultura que os circunda, sem preocupações
formais perante a prática da pintura. O foco temático em floras, faunas e
festas populares reforça a importância dos elementos culturais que constituem a
relação do artista com o mundo.
No Brasil, o movimento ganha força
em meados dos anos 50. Apesar de não ter recebido o reconhecimento merecido na
época, já que os salões de arte não valorizavam as obras de pessoas que se
situavam fora do circuito tradicional de arte, atualmente temos a Galeria
Jacques Ardies (São Paulo-SP) e o evento BÏNaif (Bienal Internacional de Arte
Naïf) que se dedicam exclusivamente ao movimento Naif.
Texto extraído de: https://arteref.com/movimentos/arte-naif-historia-principais-artistas-e-obras/
Fonte Imagem:
https://laart.art.br/blog/arte-naif-brasileira/
http://www.novaprint.com.br/professores/20-obras-de-arte-arte-naif-lu-morgado
https://acrilex.com.br/acrilex-cultural/arte-naif-no-brasil/