quinta-feira, 31 de março de 2022

Naif: A Personalidade da Arte Espontânea


Cesta de orquídeas, de Ivonaldo, traz lirismo à luz, ao sol e à paisagem de Olinda


Fonte Imagem: https://revistacontinente.com.br/edicoes/171/naif--a-personalidade-da-arte-espontanea

Uma breve história da Arte Naif

Antônio Poteiro


O termo “naif” (ingênuo ou inocente, em francês) era frequentemente usado para classificar artistas e obras de arte como ingênuos, devido aos processos autodidatas ou espontâneos, que não seguem as regras tradicionais de representação de imagens, além de também não estarem inseridos em ambientes acadêmicos e oficiais da arte.

O termo foi empregado pela primeira vez como uma crítica negativa direcionada à produção do francês Henri Rousseau (1844 – 1910), artista autodidata que iniciou a sua produção aos 40 anos e foi extremamente reprovado devido à sua falta de adequação às tradições artísticas. 

Apesar de ter sido rotulado como grotesco, diversos artistas renomados como Robert Delaunay (1885 – 1941), Guillaume Apollinaire (1880 – 1918) e Pablo Picasso (1881 – 1973) valorizaram e elogiaram o trabalho de Rousseau. 

As obras do artista não eram aceitas no Salão de Paris, fazendo com que Rousseau expusesse seu trabalho no Salon des Indépendants (Salão dos Independentes). A partir disso, outros artistas autodidatas e amadores começaram a expor suas produções no mesmo espaço.

Segundo o pesquisador Jacivaldo Machado (2017):

“Utilizando como fonte de inspiração o universo do imaginário coletivo, a iconografia popular presente nas festas populares, as paisagens regionais que mostram a flora, a fauna, aspectos arquitetônicos e a gente do lugar, de forma idealizada, os naïfs retratam a vida cotidiana de espaços com forte vínculo com o seu existir, sua arte faz alusão ao passado e presente como forma de expressar a celebração da vida. Respaldados pela liberdade estética e o fazer livre, os artistas naïfs resolvem as dificuldades técnicas sem o auxílio de normas pré-estabelecidas, concebem e produzem a sua arte livre de convenções ditadas pelo campo das artes visuais”.

Ciranda de São João - Bárbara Rochlitz

Através do tempo, os aspectos criticados do estilo Naif tornaram-se razão de apreciação no universo das artes. A legitimação e valorização da Arte Naif pelos circuitos tradicionais fez com que artistas com formações eruditas se apropriassem das técnicas e procedimentos característicos da estética Naif. 

No século XX, a Arte Naif é reconhecida como uma modalidade artística específica e se desenvolve no mundo todo, especialmente nos Estados Unidos, no Haiti e na antiga Iugoslávia. No Brasil, artistas como Maria Auxiliadora (1935 – 1974), Heitor dos Prazeres (1898 – 1966), Djanira (1974 – 1990), José Antonio da Silva (1909 – 1996), Maria do Santíssimo (1890 – 1974), entre outros, foram grandes nomes da Arte Naif brasileira. 


Características da Arte Naif:

Artistas que valorizam os processos autodidatas ou espontâneos;
Expressão artística fundamentada na criatividade e na originalidade dos artistas; 
Valorização da iconografia popular, como a fauna e flora, festas populares e o imaginário cultural; 
Composição plana com traços sem perspectivas e cores contrastantes;
Exuberância de detalhes;
Os artistas naïves utilizam de suas experiências pessoais, advindas de seu convívio com o meio e com a cultura geral, para a elaboração de suas obras.


Arte Naif brasileira

Crianças Brincando - Heitor dos Prazeres

Em 1969, o crítico de arte francês, Anatole Jakovsky já constata a força do Naif no território nacional: “O Brasil representa, junto com a França e com a Iugoslávia, um dos reservatórios mais ricos e variados da Arte Naif no mundo.” 

Conhecidos também como primitivistas, os artistas naïves brasileiros são notáveis pelo autodidatismo e uma originalidade ímpar ao se tratarem da representação de imaginários populares locais.  

Através de técnicas únicas, o artista naif brasileiro pinta a cultura que os circunda, sem preocupações formais perante a prática da pintura. O foco temático em floras, faunas e festas populares reforça a importância dos elementos culturais que constituem a relação do artista com o mundo.

No Brasil, o movimento ganha força em meados dos anos 50. Apesar de não ter recebido o reconhecimento merecido na época, já que os salões de arte não valorizavam as obras de pessoas que se situavam fora do circuito tradicional de arte, atualmente temos a Galeria Jacques Ardies (São Paulo-SP) e o evento BÏNaif (Bienal Internacional de Arte Naïf) que se dedicam exclusivamente ao movimento Naif.


Texto extraído de: https://arteref.com/movimentos/arte-naif-historia-principais-artistas-e-obras/
Fonte Imagem: 
https://laart.art.br/blog/arte-naif-brasileira/
http://www.novaprint.com.br/professores/20-obras-de-arte-arte-naif-lu-morgado
https://acrilex.com.br/acrilex-cultural/arte-naif-no-brasil/

Palavras cantadas... Cavalo Bravo

Os bois (José Antônio, 1988)

(...)
Coração atrevido
Pernas de curioso
Olhos de bem-te-vi
E ouvidos de boi manhoso
E lá vou eu mundo afora
Montado em meu próprio dorso

Cavalo Bravo - Renato Teixeira

Fonte Imagem: https://arteref.com/movimentos/arte-naif-historia-principais-artistas-e-obras/