Crédito da Imagem: Tiago Geisler)
No momento em que o debate sobre o racismo, a intolerância e a ameaça
do fascismo dão a tônica das manifestações populares em todo mundo, no Serro,
cidadezinha do interior de Minas Gerais, o povo se ressente de não poder se
juntar para celebrar a união – de brancos, negros e índios – em torno do
rosário de Maria.
A festa do Rosário se tornou a manifestação cultural mais forte no
Vale do Jequitinhonha, no interior mineiro e é uma página viva da história da
formação do povo brasileiro.
Conta a lenda, que a Virgem do Rosário apareceu sobre as águas, e que
os caboclos e os marujos cantaram em seu louvor e pediram para que ela viesse
até eles. No entanto não foram atendidos. Mas, quando os negros foram até a
praia dançaram e rezaram, conseguiram que ela viesse até eles. Desde
então, de acordo com a crença, a Santa passou a ser a protetora do povo negro.
A partir daí, todos os anos, entre os meses de junho e julho, a
negrada, a caboclada e a marujada se juntam em festa para celebrar o Rosário de
Maria.
Organizada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, é na congada,
composta exclusivamente por homens, que se dividem em quatro grupos, com
seus elementos, para fazer a leitura de cada povo sobre sua fé. Todas
as representações são carregadas de simbolismos, como a caixa de assovios,
pífaros e caixas de couro, representando os gemidos dos negros. A marujada com as cores azul e branco e os instrumentos harmônicos, como
violões, violas e banjos representando os portugueses.
Já os caboclos com seus saiotes de penas, pulseiras, fitas e arco e
flechas inserem o elemento indígena na manifestação. E, há também os catopês,
os homens negros e pobres com suas roupas de chita multicor e que tocam o
reco-reco, tamborins e caixas de de couro.
É uma história de união, através da fé, que mais parece uma grande
utopia, mas que é real e que há 181 anos, encanta moradores, peregrinos e
visitantes da região. Os congadeiros são pessoas simples, como motoristas,
serventes, agricultores, pedreiros, babás – essa gente, de um Brasil profundo,
que merece e precisa ser reconhecida.
E foi mergulhando nesse universo, que a pesquisadora, ativista
cultural e cantora, Daniela Passos, construiu o livro “Contas e Cantos do
Rosário”. A publicação, ainda não lançada, reúne histórias e símbolos da festa,
mas, fundamentalmente, memórias e afetos desse importante encontro social das
pessoas da região do Serro.
Esse ano, em decorrência da pandemia da Covi-19, não haverá festa. Os
cânticos e danças dos congadeiros, no entanto, não ficarão em silêncio,
pois, o livro é uma forma de dar eco à manifestação e manter a chama acesa para
que tudo volte a ser como era, quando o perigo passar.
Daniela Passos é carioca e mora há sete anos no Vale do Jequitinhonha,
próximo das nascentes da cidade do Serro – “o que me trouxe para o sertão
mineiro foi justamente a Festa do Rosário, uma paixão arrebatadora e à primeira
vista”.
Para manter viva a cultura e a tradição da festa, a autora decidiu
publicar o material, justamente nesse momento tão importante e tão difícil para
os congadeiros do Serro e, para isso criou uma campanha para arrecadar os
recursos necessários para a publicação. Os recursos serão usados para os
custos de impressão do material e outra parte será revertida para os
Congadeiros do Serro.
Quem quiser participar e adquirir o material pode contribuir até o dia
15 de agosto de 2020. Todas as informações sobre como participar podem ser
acessadas nessa página ou no instagram.
Texto extraído de:
https://www.pressenza.com/pt-pt/2020/07/congada-do-serro-de-minas-ganha-livro-para-se-manter-viva-durante-a-pandemia/
Fonte Imagem:
https://www.pressenza.com/pt-pt/2020/07/congada-do-serro-de-minas-ganha-livro-para-se-manter-viva-durante-a-pandemia/
Fonte Imagem:
https://www.pressenza.com/pt-pt/2020/07/congada-do-serro-de-minas-ganha-livro-para-se-manter-viva-durante-a-pandemia/
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