A palavra cantaria, no âmbito da arquitetura, tem sua etimologia originada do latim “canthus” com o significado de “aresta”. Há autores que remete o significado à época pré-romana quando designava "pedra grande", ou pedra aparelhada para formar o ângulo de uma construção.
Daí sua ampla utilização nos
cunhais ou esquinas das edificações, arrematando o encontro de dois panos de
paredes. Seja como for, cantaria refere-se às pedras “aparelhadas”, “lavradas”
e “esquadrejadas” segundo as técnicas da estereotomia. A estereotomia refere-se
ao estudo minucioso das formas das pedras, através da análise das
possibilidades de corte e entalhe pela geometria da peça.
Canteiro ou cantel é
o oficial que corta, desbasta e aparelha as pedras para a construção que irão
constituir a cantaria. O étimo de cantel pode ter origem numa corruptela do
espanhol “el canto”, que também corresponde à pedra de canto. O termo cantel é
utilizado apenas nos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba, cuja presença do
técnico José Ferrão Castelo Branco, do Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional – 5aSR/IPHAN, influenciou seu emprego.
Em Recife e em outras cidades
coloniais brasileiras como Salvador, Rio de Janeiro e Ouro Preto, os canteiros
se organizavam em “Confrarias” sob a denominação geral de pedreiros. Seus
conhecimentos eram transmitidos pelos Mestres aos Aprendizes. Tais associações
eram assemelhadas aos grêmios europeus medievais de profissionais da
construção, embora de caráter pouco rígido e mesclado de religiosidade, onde o
ofício era “regulado” e “atestado” por juízes através de “cartas de ofício”.
Também, possuíam um Santo protetor (São José) estampado em uma “bandeira”,
representativa da Confraria. Esta bandeira era carregada pelos Mestres de
Ofício em as procissões e outras atividades públicas.
Os canteiros realizavam uma gama
de serviços que ia da confecção de simples pedras para assentamento em muros a
elementos escultóricos fossem obras civis, religiosas ou militares.
Alguns componentes de cantaria, de tão constantes, tipificaria a arquitetura de um lugar como se deu com os “cachorros de pedra”, unicamente encontrados em Olinda e Recife!
Cabe observar que contrário da Metrópole, onde eram comuns edificações inteiramente em cantaria, o seu uso no Brasil Colonial ficou restrito a componentes construtivos como cunhais, pilastras, colunas, molduras de portas e janelas, escadarias e obras decorativas em geral, sempre inseridas em uma alvenaria rebocada. As obras de cantaria expressavam valores de beleza, segurança, durabilidade e status justamente pelos recursos materiais e humanos envolvidos, demandando uma mão de obra muito especializada.
No Brasil a rocha utilizada na
cantaria, como era de se esperar, variou de região para região, sendo comum em
grande parte do nordeste tanto o arenito dos arrecifes quanto o calcário. Em
Minas Gerais, foi corrente o uso da pedra sabão e no Rio de Janeiro, o granito.
Tais rochas se diferenciavam pela suas propriedades físico-mecânicas e de
“trabalhabilidade” e, consequentemente, pelo seu emprego e até pelas suas
possibilidades plásticas.
Subvertendo as características
originais da rocha e adotando uma tradição imemorial, foi igualmente comum o
uso da cantaria pintada (faiscado), fazendo com que os tons cinzas e amarelados
naturais recebessem colorações vivas diversas e manchas, imitando e fingindo os
veios de certos mármores.
Na história da Arquitetura Colonial Brasileira se pode constatar o desaparecimento das obras em cantaria desde o final do século XVIII. A partir do século XIX, tanto os componentes exteriores quanto interiores serão paulatinamente substituídos pela alvenaria de tijolo com relevos moldados em argamassa de cal, gesso e areia.
Este fenômeno esteve associado aos fatores econômicos e sociais advindos: a) com a racionalização dos processos construtivos; b) com a extinção das antigas organizações de ofícios mecânicos (decretada pela Constituição de 1822); c) com a intensa imigração de “operários da construção” oriundos da Alemanha e da França, onde a Revolução Industrial já transformara a Arte da Construção.
Finalmente, é necessário dizer que
as atividades conservação e restauro sobre a cantaria degradada tanto pelas
intempéries quanto pela mão humana, apesar de todos os recursos da tecnologia
contemporânea, prescinde hoje, mais do que nunca, de um cuidadoso resgate
daqueles antigos modos de fazer de cada Ofício.
O mestre canteiro, responsável
pela produção dos modelos reduzidos do acervo do CECI, é o escultor Hamilton
Martins de Souza, formado na arte da cantaria desde 1986, quando participou da
restauração da portada da Igreja do Monte (Olinda-PE) e especializado na Escola
de Mestres de Ofícios em Veneza (Itália).
Fonte Imagem: http://ilumineoprojeto.com/museu-casa-dos-contos-em-ouro-preto-parte-i-a-maior-construcao-particular-da-vila-rica-de-sua-epoca/
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