Considerado
Patrimônio Cultural do Brasil desde 2011, o Bumba Meu Boi, expressão
emblemática do Maranhão, está mais próximo de ganhar uma nova distinção: o
status de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Hoje, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan) entregou ao Ministério das Relações Exteriores a candidatura do Bumba
Meu Boi para concorrer ao novo título, que é conferido pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Com esse passo, a previsão é de que a decisão sobre a inclusão do
Bumba Meu Boi na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade seja
anunciada já no começo do próximo ano. Segundo a presidente do Iphan, Kátia
Bogea, a própria fundamentação documentada em forma de dossiê exigiu que os
profissionais designados para a tarefa se voltassem à diversidade artística
dessa manifestação.
Fazem parte do Bumba Meu Boi a brincadeira, a
música, a dança e as artes cênica e plástica. A versão final do dossiê, que
será enviado a Paris, acabou sendo composta por dois vídeos – um que aborda o
que é o Bumba Meu Boi e outro só de depoimentos. Também foi desenvolvida uma
pesquisa que detalha os elementos e reconta a história dessa arte desde os
primórdios.
“Ele [o Bumba Meu Boi] estava em todos os livros de registro,
envolve tudo. Desde aquele primeiro momento, a gente percebia a diversidade e a
complexidade dessa manifestação. Eu tenho certeza absoluta de que, pela beleza,
por tudo que o boi representa, é uma manifestação que é a cara do Brasil, um
país tão diverso”, disse Kátia.
CULTURA POPULAR
Somente no Maranhão, o Bumba meu boi é difundido por mais de 400
grupos, em 79 municípios. No estado, que segundo Kátia “respira” e é
“totalmente contaminado” diante das primeiras notas dos instrumentos, a
manifestação é dividida em cinco estilos principais, conhecidos como sotaques:
Matraca, Orquestra, Zabumba, Baixada e Costa-de-mão.
“Você
poderia fazer milhões de recortes no boi. O boi de Orquestra não tem nada a ver
com o de Matraca, que não tem nada a ver com o Costa-de-mão. É uma diversidade
tão grande, não só de coreografias, de musicalidade, religiosidade – tem os
bois dos encantados, tem o boi ligado aos terreiros, tem o ligado à religião
católica, o dos festejos de Minas Gerais. O boi é batizado, depois morre,
ressuscita. O ano inteiro, esse ciclo do boi, que é a própria vida da gente”,
completou.
Segundo Kátia, que é historiadora, maranhense e funcionária do
instituto há 38 anos, para o povo de seu estado natal, o boi “é uma questão
muito séria, que traduz a própria vivência das pessoas”. “A gente fala até em
sociologia do boi, antropologia do boi.” Em outros pontos do país, como na
região Sudeste, por exemplo, o Bumba Meu Boi muda de nome para Boi Pintadinho.
Em Santa Catarina, se chama Boi de Mamão.
Fascinado pelo Bumba Meu Boi desde os 8 anos, o servidor do Banco
Central Tarquínio Costa Cardoso, participante do Meu Boi do Maracanã, do
Maranhão, e Seu Teodoro, de Brasília, disse considerar “sagrada” a alegoria do
animal. Cardoso, que é integrante dos grupos há mais de 30 anos, acredita que o
status, se concedido pela Unesco, trará mais condições de o trabalho ser
divulgado e um orçamento menos apertado para o desenvolvimento das atividades.
Foi por se envolver desde pequeno com o Bumba Meu Boi que ele chegou aos 65
anos sabendo tocar pandeiro, tambor-de-onça e matraca.
UNESCO
Caso o comitê responsável pela definição dê um parecer favorável,
o Brasil passará a ter cinco bens reconhecidos sob a classificação, junto a
Arte Kusiwa – Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), o Samba de Roda no
Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife
(2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e a Roda de Capoeira (2014).
“É um
momento muito importante para que as pessoas respeitem a cultura afrobrasileira
e não torçam o nariz para ela”, afirmou o presidente da Fundação Palmares,
Erivaldo Oliveira da Silva, também otimista com a possibilidade de ampliação de
recursos destinados ao Bumba Meu Boi.
Silva ressaltou a sensibilidade do Iphan de legitimar o valor da
cultura popular ao selecionar uma expressão de matriz africana para concorrer
ao título, como anteriormente feito com o samba e a capoeira. Conforme explicou
Kátia Bogea, o Iphan pode submeter somente uma única candidatura por ano e a
escolha teve princípio em agosto de 2011.
Fonte:
http://brasiliadefato.com.br/cultura-e-entretenimento/2018/04/bumba-meu-boi-concorrera-ao-titulo-de-patrimonio-cultural-da-humanidade/
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