quarta-feira, 11 de abril de 2018

Cultura Popular: uma visão antropológica


Por Marco Oliveira

          A miscigenação racial no Brasil, de forma distinta, pelo negro, o branco, o índio, antevê a possibilidade de que a identidade sociocultural do povo brasileiro foi sem dúvida, a condição suprema para a nossa formação, principalmente no conjunto de valores culturais tão importantes e que marcam a nossa condição histórica, inclusive, no seu fundamento à homogeneidade cultural e lingüística.


          Muito antes da sua emancipação política e administrativa em idos de 1912, o município de Pirapora era habitado por indígenas da Tribo Cariri, que viviam da pesca abundante e da caça. Tanto o é, que o topônimo pira (salto), poré (peixe), ou “onde o peixe salta” representa através desta raça, a pujança do lugar.

          Contudo, vale salientar que Pirapora, motivada pela “saudosa” navegação do Rio São Francisco, sofreu uma grande intervenção sociocultural, enfaticamente de nordestinos, na sua maioria retirantes e aventureiros que procuravam terras férteis e prosperidade econômica satisfatória.

          Esses grupos dentro do contexto das relações sociais representam os estudos etnológicos, feitos por pesquisadores que acima de tudo, procuram desenvolver com exatidão não só o teor antropológico dos indígenas, como a própria formação do nosso povo, de forma sistematizada e generalizada, ou seja, através da análise e interpretação sucinta da nossa história singular.

          Mas, o que vem a ser a cultura popular? Segundo o Professor Antônio Henrique Weitzel da UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora, a cultura popular é tida como “...a cultura associada ao povo, ou seja, ao contrário da cultura erudita, não está ligada ao conhecimento científico, mas como parte integrante o conhecimento vulgar ou espontâneo, o popular senso comum. Considerada também como arte do povo, o tipo de linguagem acontece como uma espécie de luta pela sobrevivência e pode ser de massa ou tradicional”.

          Mas, o homem começou a se desenvolver culturalmente através das suas necessidades básicas, como o alimento para saciar-lhe a fome e o abrigo do corpo. Para fins didáticos, pode-se afirmar que a cultura nasceu com o homo sapiens.

          Nesse prisma, os grupos humanos se expandiram progressivamente, ocupando praticamente a totalidade dos continentes do planeta, a partir de uma origem biológica comum. O desenvolvimento dos grupos humanos se fez segundo ritmos diversos e modalidades variáveis, não obstante a constatação de certas tendências globais.

          Todavia, não devemos hierarquizar a cultura, até porque não há como conceber que haja uma cultura superior. Há culturas diferentes, não havendo nenhuma distinção quanto às suas características em face à realidade cultural de um povo ou de um grupo humano.

          Sendo a cultura a dimensão do processo social, é imprescindível que cada realidade cultural tenha sua lógica interna, sendo necessário relacionar a variedade de procedimentos culturais com os contextos em que são produzidos.

          A contribuição  no estudo das culturas advém da construção do fundamento histórico, seja como concepção ou como dimensão do processo social, sendo a cultura um produto coletivo da vida humana.

          E a tradição, como se aplica nesse contexto? Ora, a falsa idéia que se tem, é que a tradição é tudo aquilo que é velho e/ou antigo, mas esse é um conceito falso, vez que é aquilo que está sendo entregue ou transmitido, ou seja, a herança cultural, passada de uma geração pra outra, as crenças e técnicas.

          A cultura se divide em dois grupos distintos: a cultura de massa e cultura tradicional. A cultura de massa é aquela, onde as instituições dominantes têm de prover, e até mesmo criar as necessidades de multidões e de seus participantes anônimos, da mesma forma que desenvolvem mecanismos eficazes para controlar essas massas humanas, já a cultura tradicional, é tida como aquela que temos a necessidade de conhecê-la profundamente, dando-a a importância devida, até porque, representa a sabedoria de um povo, a sabedoria vulgar, ou a pedagogia da experiência, sendo regional e universal ao mesmo tempo.

          Na cultura popular reside a maior fonte de sabedoria do homem, do povo, é através dela, que iremos nortear e encontrar os fatos folclóricos ou manifestações folclóricas.

          O fato folclórico, por sua vez, compreende as maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservados pela tradição popular e pela imitação, dedicado à renovação e conservação do patrimônio histórico científico humano ou afixação de uma orientação religiosa ou filosófica. Sendo caracterizado face aos aspectos tradicional, funcional, vulgar ou popular, espontâneo, anônimo e oral, bem como a sua aceitação coletiva.

          São os diversos agrupamentos das espécies folclóricas, tendo em vista o seu futuro aproveitamento nas escolas, tais como: a literatura oral e linguagem popular; música folclórica; festas populares; recreação: arte, artesanato e técnicas populares; medicina popular; religiões, crendices e superstições; usos e costumes e alimentação.

          Porque citei Pirapora? Como um amante e estudioso da história local, e profundo conhecedor das raízes culturais do Alto Médio São Francisco, posso reafirmar a importância da cultura popular num contexto sociocultural e humano da nossa gente.

          Danças como o “Carneiro”, “Gamba”, “Lundu”, “Marujada”, e manifestações de louvor, como as “Folias de Reis” e “São Gonçalo”, além das lendas, mitos, contos, fábulas, parlendas, ciranda e causos, e claro o nosso artesanato em madeira, com destaque para as “carrancas”, dentre outras peças de renomado valor, representam a singularidade da nossa tradição, que vem sendo cultivada pelos ribeirinhos como uma rica demonstração da nossa potencialidade.



Fonte:
https://www.recantodasletras.com.br/artigos/803875
Fonte imagem:
http://www.agenciaminas.mg.gov.br/noticia/exposicao-bordado-reinventado-marca-dia-do-artesao-no-centro-de-arte-popular-cemig

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