MODA DE VIOLA
Os ritmos e
representações considerados como caipiras, as tradicionais modas de viola,
podem ser encontradas nas regiões brasileiras como: o cururu, o catira (ou
cateretê), folias de reis, danças de São Gonçalo, congadas, calangos e a moda
de viola (desta vez um ritmo), entre outros (MENEZES, 2008).
A moda de
viola é um ritmo de origem rural, comumente encontrada nas áreas do interior
das regiões do Sudeste, Centro-Oeste e algumas áreas do Paraná.
Coincidentemente com a área que Antônio Cândido (1998) chamou de “lençol
caipira”.
A moda de
viola também era conhecida nos seus primórdios como romance. A jornalista
Rosa Nepomuceno (1998 apud Menezes, 2008, p. 15) também destaca a
variabilidade dos temas deste tipo de música:
Os versos,
geralmente longos, falam de tudo o quanto há ao redor do caipira, desde o rio
que lhe banha os pés a infortúnios de todo tipo, a morte do boi preferido, o
combate de rivais pelo amor da cabocla bonita. E ainda separações, desencantos,
fatos engraçados, impressões de viagens.
As modas
trazem, muitas vezes, narrações de fatos ou eventos verídicos, inclusive com o
local do ocorrido, reforçando assim a impressão de realidade. Essas localidades
coincidem com o “lençol caipira”, identificados por Antônio Cândido (1998). A
maneira como a moda de viola é executada também contribui para esse realismo. O
moda tem ares de declamação, é uma poesia cantada e privilegia a sua
compreensão, como se o violeiro fosse um contador de histórias.
A música de
origem caipira foi adquirindo contornos próprios, seja nos temas, na execução e
nos instrumentos musicais. De exaltação das belezas do campo, passou a falar de
histórias de amor e corações partidos. Enquanto a música caipira é executada de
maneira mais lenta, com os versos quase falados, com melodias que se repetem e
sempre levada em duo de vozes terçadas, com a utilização da viola, a música
sertaneja abandonou a viola e introduziu novos instrumentos musicais (MENEZES).
Tanto a
música raiz quanto a música sertaneja, sofre ainda uma certa depreciação nas
camadas mais eruditas da sociedade. Teria a música raiz perdido seu valor e seu
espaço em um mundo tão tecnológico, com ritmos musicais tão psicodélicos?
O
antropólogo Tiago de Oliveira entende que a música desempenha um importante
papel na cultura:
O fato de
permear tantos momentos nas vidas das pessoas, de organizar calendários
festivos e religiosos, de inserir-se nas manifestações tradicionais,
representando, simultaneamente, um produto de altíssimo valor comercial, quando
veiculada pelas mídias e globalizando o mundo no nível sonoro, faz da música um
assunto complexo e rico de possibilidades para a investigação e o saber
antropológicos. (PINTO, 2001, apud, MENEZES, 2004, p. 29).
A música
raiz faz parte da vida cotidiana das pessoas e serve como elemento de
integração social, além de compor os calendários festivos e religiosos e
inserir-se nas manifestações tradicionais. Ela contribui para a percepção das
pessoas sobre um passado em comum, visto que todos os brasileiros tiveram um
tataravô, um bisavô ou avô que viveu em períodos da história brasileira em que
a agricultura familiar era forte, necessária e havia a vivência da cultura
caipira em sua essência. E a presença dela se mostra forte e exuberante nos
concursos culturais, nas feiras agropecuárias, nos eventos rurais relacionados
ao campo, nas festas beneficentes, conforme nossa pesquisa de campo.
BIBLIOGRAFIA
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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_caipira
Fonte Imagem: http://violacaipira.com.br/
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