quarta-feira, 30 de maio de 2018

A força da Cultura Caipira (Parte 4 - Final)




MODA DE VIOLA

Os ritmos e representações considerados como caipiras, as tradicionais modas de viola, podem ser encontradas nas regiões brasileiras como: o cururu, o catira (ou cateretê), folias de reis, danças de São Gonçalo, congadas, calangos e a moda de viola (desta vez um ritmo), entre outros (MENEZES, 2008).

A moda de viola é um ritmo de origem rural, comumente encontrada nas áreas do interior das regiões do Sudeste, Centro-Oeste e algumas áreas do Paraná. Coincidentemente com a área que Antônio Cândido (1998) chamou de “lençol caipira”.

A moda de viola também era conhecida nos seus primórdios como romance. A  jornalista Rosa Nepomuceno (1998 apud Menezes, 2008, p. 15) também destaca a variabilidade dos temas deste tipo de música:

Os versos, geralmente longos, falam de tudo o quanto há ao redor do caipira, desde o rio que lhe banha os pés a infortúnios de todo tipo, a morte do boi preferido, o combate de rivais pelo amor da cabocla bonita. E ainda separações, desencantos, fatos engraçados, impressões de viagens.
As modas trazem, muitas vezes, narrações de fatos ou eventos verídicos, inclusive com o local do ocorrido, reforçando assim a impressão de realidade. Essas localidades coincidem com o “lençol caipira”, identificados por Antônio Cândido (1998). A maneira como a moda de viola é executada também contribui para esse realismo. O moda tem ares de declamação, é uma poesia cantada e privilegia a sua compreensão, como se o violeiro fosse um contador de histórias.

A música de origem caipira foi adquirindo contornos próprios, seja nos temas, na execução e nos instrumentos musicais. De exaltação das belezas do campo, passou a falar de histórias de amor e corações partidos. Enquanto a música caipira é executada de maneira mais lenta, com os versos quase falados, com melodias que se repetem e sempre levada em duo de vozes terçadas, com a utilização da viola, a música sertaneja abandonou a viola e introduziu novos instrumentos musicais (MENEZES).
Tanto a música raiz quanto a música sertaneja, sofre ainda uma certa depreciação nas camadas mais eruditas da sociedade. Teria a música raiz perdido seu valor e seu espaço em um mundo tão tecnológico, com ritmos musicais tão psicodélicos?

O antropólogo Tiago de Oliveira entende que a música desempenha um importante papel na cultura:
O fato de permear tantos momentos nas vidas das pessoas, de organizar calendários festivos e religiosos, de inserir-se nas manifestações tradicionais, representando, simultaneamente, um produto de altíssimo valor comercial, quando veiculada pelas mídias e globalizando o mundo no nível sonoro, faz da música um assunto complexo e rico de possibilidades para a investigação e o saber antropológicos. (PINTO, 2001, apud, MENEZES, 2004, p. 29).

A música raiz faz parte da vida cotidiana das pessoas e serve como elemento de integração social, além de compor os calendários festivos e religiosos e inserir-se nas manifestações tradicionais. Ela contribui para a percepção das pessoas sobre um passado em comum, visto que todos os brasileiros tiveram um tataravô, um bisavô ou avô que viveu em períodos da história brasileira em que a agricultura familiar era forte, necessária e havia a vivência da cultura caipira em sua essência. E a presença dela se mostra forte e exuberante nos concursos culturais, nas feiras agropecuárias, nos eventos rurais relacionados ao campo, nas festas beneficentes, conforme nossa pesquisa de campo.


BIBLIOGRAFIA

BALAN, P. P. O novo ”caipira”: o olhar do ”eu” e do ”outro”. Dissertação de Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa apresentada a Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara. 117 f., 2013.
BRAGANÇA, M. A tradução do Jeca Tatu por Mazzaropi:um caipira no descompasso do samba.Ipotesi, v. 13, n. 1, p. 103 - 116, jan./jul. 2009.
Boa música Brasileira. Apresenta informações sobre a preservação da memória musical brasileira com ênfase na música caipira raiz. Disponível em: <http://www.boamusicaricardinho.com/ramiroviolaepardini_65.html>. Acesso em: 17 set. 2014.
CANDIDO, A. Os parceiros do Rio Bonito. ed. Livraria duas cidades, 9.ed., 2001.
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade 8ª ed São Paulo. Publifolha 2000.
CÂNDIDO, Antônio. Parceiros do Rio Bonito. São Paulo. 8ª ed. Duas Cidades. 1998.
HERCULIANI, S. A populaçao caipira e sua reproduçao sociocultural frente às políticas públicas de conservação e dos processos de educação - Parque Estadual do Jurupará, Ibiúna-SP. Dissertação de Mestrado em Geografia Humana apresentada a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 155f., 2009.
MARIANO, N. F. O lugar do caipira no processo de modernização. Revista Electrónica de Geografía y Ciências Sociales. v. 22, n. 69, ago. 2000.
MENEZES, Eduardo de Almeida. Moda de viola e modos de vida: as representações do rural na moda de viola. 2008. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais em desenvolvimento, agricultura e sociedade) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.Disponível em: Jornal Acontece Botucatu. http://www.acontecebotucatu.com.br/default.asp?id=noticias&codigo=16947. Acesso em: 17 set. 2014.
NEPOMUCENO, Rosa. Da roça Ao rodeio. São Paulo. Editora 34, 1999.
PINTO, Tiago de Oliveira. Som e Música. Questões de uma Antropologia Sonora. In: revista de Antropologia. V. 44 nº 1. São Paulo. USP, 2001.
SETUBAL, Maria Alice.Vivências caipiras: pluralidade cultural e diferentes temporalidades na terra paulista. São Paulo : CENPEC / Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005.




Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_caipira
Fonte Imagem: http://violacaipira.com.br/


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