Parabéns ao blog Além do Mar pela sua bela matéria que agora compartilho.
O Cavalo
Marinho é um folguedo cênico pernambucano que envolve música, poesia, dança e
objetos cênicos a partir do imaginário popular da região rural. Com intima
ligação ao cotidiano do trabalhador canavieiro ao universo histórico
representados no senhor de engenho e no escravo, adaptados as influências do
cotidiano sócio cultural da atualidade e que se desenvolve de forma
dinâmica, envolvente e lúdica. Com apelo cômico e simbolismos religiosos, cenas
intercaladas em diversas etapas de danças como: São Gonçalo, Coco e mergulhão,
durante horas a fio. Assim a brincadeira avança pela madrugada até o amanhecer.
O folguedo conta com uma estrutura tradicional com um banco de samba, os
personagens (figuras), o mestre e os galantes com seus arcos e fitas coloridas.
As figuras do Cavalo Marinho se dividem em três classificações, as figuras
fantásticas, as figuras humanas e as figuras animais. As fantásticas surgem do
imaginário popular, como, o Babau, o caboclo de Arubá, a morte, o cão, figuras
que não existem, em seguida vem as figuras animais, o boi, cavalo, ema, onça,
macaco. Nas figuras humanas há personagens como o varredor de rua, o
vaqueiro, Mané do baile, Pisa Pilão, verdureiro, bicheiro, Mané do motor,
inspirado no mecânico dos motores do engenho do capitão Marinho. O doutor, que
na morte do boi ressuscita ele, o empata Samba, Mané do baile, os bodes, que
são dois bêbados que atrapalham os galantes quando estão falando as loas, Mané
pequenino, Caipora, Pataqueiro, o soldado. O Ambrósio, Mateus, Bastião e
Catirina compõe as figuras fixas, presentes em toda a apresentação que pode chegar
a 76 personagens.
Toda sambada é diferente, o folguedo trás várias particularidades, que vão
desde sua duração que pode chegar a 12 horas sem interrupção em uma única
apresentação, e também por ser diferente de outro folguedos, seus brincantes
também se apresentam em outras agremiações fazendo das apresentações uma grande
troca de experiências e proporcionando o constante movimento de influências de
uma agremiação a outra.
O homem por trás da mascara
Uma vez no terreiro com um bocado de crianças, o mestre Biu Roque o chamou
e disse: “A partir de hoje seu nome no Cavalo Marinha será “Maior”. Perguntado
o porquê, o mestre disse que o nome dado foi por ele ser a maior criança que
estava ali.
Ricardo mora em Sítio Novo a 84 km de Condado na Mata Norte de Pernambuco
e diz que tantas as vezes que for chamado por mestre Luis (que após o
falecimento de mestre Biu Roque assumiu o folguedo), ele virá atender para
brincar o cavalo marinho, “Só a satisfação de brincar e ser bem recebido
é tudo para mim.” Além de ser uma promessa que ele fez a Mestre Biu Roque que
era mestre de Cavalo Marinho, brincante de Ciranda, brincante de Coco, tocador
de maracatu, brincante de babau, tocador de forró, onde certa vez pediu para
não deixar morrer o Cavalo Marinho.“Cavalo marinho é o alimento da minha
alma”. Se depender dele e de muitos que lá estão, o cavalo marinho nunca irá se
acabar.
“Falar de Biu Roque é a mesma coisa de falar de um avô pai de um irmão, um
primo e de um filho, ele ensinou a respeitar as pessoas independente de onde
estiver, para que as pessoas o respeite.”
Biu Roque e Luís deram o desfio a Ricardo de deixar de ser um dos galantes
“para botar figura”. Ele diz se sentir respeitado, “fogoso”, importante, as
atividades são muitas, puxar arco, botar figura, tocar no banco, bater
pandeiro, rapar o bajo, balançar o mineiro, são algumas. A cultura popular é
uma coisa que as sociedades tem que aprender.
Mestre Walter Ferreira de França é outro mestre na vida de Ricardo,
responsável por ensinar a tocar pandeiro, tocar maracatu, gostar de ciranda,
gostar de caboclinho, bater zabumba de forró, cantar toada.
Apesar não ter aprendido a fazer versos improvisados, lembra de um
decorado:
“meu pai muito avechado com minha mãe se casou, na ilusão do amor,
terminei sendo gerado. Fiquei num canto apertado, sem ter calor nem frieza, sem
praticar malvadeza, crime, vingança ou pecado, passei noves meses trancado, na
prisão da natureza”.
Uma das primeiras toadas feitas por barachinha para o maracatu.
O mestre José Mario guia seus galantes que dão o movimento e ritmo cheios
de cores e evoluções com seus arcos em referência a temática religiosa do
folguedo.
Em resumo, é preciso viver a apresentação de um cavalo marinho, resistir a
travessia da madrugada e absorver toda a riqueza cultural preservada pelos
mestres e compartilhada com jovens.
Fonte:
https://alemdomar.wordpress.com/tag/folguedos/
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