“O sertão está em toda parte, o sertão está dentro da gente. Levo o sertão dentro de mim e o mundo no qual vivo é também o sertão.”
Assim definiu Guimarães Rosa
naquela que é considerada sua obra-prima, “Grande Sertão: Veredas”. O livro
escrito no idioma sertanejo é imerso na cultura do cangaço. Nele o autor
percorre rios, matas, casas, comunidades e tradições. Uma história de amor, de
amizade e de companheirismo, repleta de dualidades e antagonismos. Uma obra que
em toda sua ludicidade e poesia dá conta da concretude deste lugar que nunca
deixou o imaginário do escritor: o Sertão e suas veredas. Tal qual um dos
principais autores brasileiros, o WWF-Brasil também é apaixonado pelo
sertão e busca nos rios, nas matas e na cultura tradicional a inspiração para o
trabalho e a força para o desenvolvimento sustentável no Cerrado Brasileiro.
Mas que sertão é esse?
Entre chapadas e vales, com uma
vegetação que varia entre formações florestais, campestres e savânicas, o
Cerrado ocupa uma vastidão de 2 milhões de km² (¼ do território nacional), se
estende por 11 estados brasileiros, e o Distrito Federal, abriga 5% da
biodiversidade do mundo e 30% da biodiversidade brasileira.
É entre o norte de Minas Gerais e
sudoeste da Bahia que se encontram as veredas e seus buritizais, essa vegetação
que representa um verdadeiro oásis no coração do Brasil e que está em parte
protegida pelo Parque Nacional Grande Sertão Veredas, assim como outras áreas
protegidas. É nesta região também que estão localizadas as cavernas do Parque
Nacional Cavernas do Peruaçu e sob a qual encontra-se o aquífero Urucuia, um
dos maiores reservatórios de água subterrânea do país. Em busca de garantir a
integridade dessa importante região do Cerrado Brasileiro e toda essa
sociobiodiversidade narrada por Guimarães Rosa, foi consolidado o Mosaico de
unidades de conservação Sertão Veredas Peruaçu.
“Há veredas grandes e pequenas,
compridas e largas. Veredas com uma lagoa; com um brejo ou pântano; com
pântanos de onde se formam e vão escoando e crescendo as nascentes dos rios;
com brejo grande, sujo, emaranhado de matagal (marimbu); com córrego, ribeirão
ou riacho.” (Guimarães Rosa em correspondência com o tradutor italiano Edoardo
Bizzarri).
Mosaico Sertão Veredas Peruaçu
O Mosaico Sertão Veredas Peruaçu representa uma área chave para garantir a conservação do Cerrado. São mais de 1 milhão e 600 mil hectares de área protegida, em diferentes modelos de unidades de conservação, de proteção integral e uso sustentável. Inclui também quatro comunidades quilombolas e duas terras indígenas, em 11 municípios no norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia,uma região que reúne paisagens impressionantes e únicas.
Grande Sertão, o filme
Nesta expedição, o WWF-Brasil
percorreu, ao longo de cinco dias, mais de dois mil quilômetros e visitou os
três núcleos do Mosaico: Chapada Gaúcha, Pandeiros e Peruaçu. Documentamos em
imagem e som este lugar do qual as milhões de palavras escritas por Guimarães
Rosa tentam dar conta da diversidade e das adversidades. Das formas de
expressão cultural às estratégias de sobrevivência desenvolvidas pelo povo
sertanejo, mostraremos aqui como são manejadas as terras e a forma de viver
desse povo que habita esse lugar desde sempre.
Essa gente de admirável poder de
adaptação vem através de gerações aprimorando sua sabedoria em lidar com a
terra e hoje desenvolve belíssimas estratégias voltadas aos novos meios de
produção e consumo. Com o apoio de diversos parceiros dedicam-se a ações que
promovem a conservação e o desenvolvimento sustentável da região. São inúmeras
iniciativas comunitárias voltadas para o extrativismo, mas antes disso, são os
Joãos, as Marias, os Riobaldos e Diadorins os principais responsáveis pela
preservação e manutenção desse ecossistema tão singular. Todos trabalhando com
um único objetivo comum: manter as matas e rios, fartos e produtivos, para que
possam continuar a viver ali, na mesma terra e da mesma forma que aprenderam
com os seus antepassados.
Embarque nessa viagem pelo Cerrado de Guimarães Rosa!
Os personagens dessa viagem
João Grilo lamenta com voz
firme e dura como sua comunidade vem sendo impactada pelo desmatamento.
Buraquinhos fica na base de um cânion que se estende por mais de 30 quilômetros
ao longo do rio Pardo, formando um corredor ecológico que liga o Parque
Nacional Grande Sertão Veredas ao Parque Estadual Serra das Araras. Esse
sertanejo tem o dom da oratória e, como muitos ali, brinca com as palavras para
falar de coisas importantes: dos saberes e remédios tradicionais, dos hábitos
dos antigos e da perda desses saberes, da mata nativa, de sua destruição, das
águas e da seca.
“ O orgulho do homem está
acabando com tudo. Enquanto ele está em cima da máquina vendo o Cerrado indo
abaixo, para ele está tranquilo. Mas depois vem o arrependimento. Muitos hoje
estão arrependidos do desmate que fizeram; a falta de chuva e os rios secando
tudo. Mas agora é tarde…” (João Grilo)
Roseli trabalha com as coisas
da roça e da casa, mantendo em seu quintal um pouquinho de tudo: uma horta,
algumas galinhas e pés de Buriti. Com as folhas do Buriti, ela produz a
esteira, artesanato típico da região. Sua pouca fala e olhar desconfiado dizem
bastante sobre o ser mulher no seu tempo e no seu lugar, onde a força está nas
ações, no dia-a dia da vida no Sertão.
Betinho, como todo sertanejo,
tenta complementar sua renda com o artesanato. Ele preenche garrafas de vidro
com as diferentes colorações de argila e arenito que encontra nos paredões que
margeiam o rio Pardo, ao longo do Vão dos Buracos.
Tião, como é conhecido entre
os moradores da comunidade, é muito calado e fez uso de poucas palavras
para contar que aprendeu com seu avô o ofício que hoje garante o seu sustento e
a perpetuação desse saber em sua região.
Dona Vani, esposa de Sebastião, é
presidente da associação de moradores da comunidade de Ribeirão de Areia. Possui
uma horta orgânica farta em seu quintal e fornece alimentos para a escola de
sua comunidade.
Dona Valdenísia é a
representante do grupo de danças das mulheres na sua comunidade. Mais que isso,
ela é agricultora e, como filha do sertão, D. Valdenísia fala de forma
assertiva e sintética sobre a seca, a escassez de água e a dificuldade de
produzir nos últimos anos. Sem enxergar possibilidades de mudança, não vê muita
esperança no futuro.
“O pequi não dá há dois anos, a
mandioca esse ano não conseguiram colher. Outro dia, fui lavar a roupa no rio e
fiquei assustada com a pouca quantidade de água . Antigamente, a água vinha
acima do peito, agora dela não passa da cintura. ” (Dona Valdenísia)
Bauzinho já foi presidente da
Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de Pandeiros (Coopae).
Mais que isso, é poeta e cordelista. Escreve as músicas tradicionais da folia
de reis e organiza o encontro de folias da região, que acontece anualmente no Refúgio
Estadual de Vida Silvestre do Rio Pandeiros. Assim como sua companheira,
lamenta as amarguras da seca, mas não deixa de comentar sobre os tempos de
fartura e sobre a qualidade do pequi da sua comunidade.
Seu Nego é extrativista e,
com a ajuda dos netos coleta, processa e beneficia os frutos de Jenipapo para
produção de seu delicioso licor. Além disso, ele extrai o vinho de Jatobá,
valioso remédio na região. Pesquisador nativo do Cerrado, Seu Nego é
praticamente um alquimista. Com muita propriedade, ele lança mão de termos
técnicos para falar dos benefícios das plantas, das características medicinais
e da qualidade de seus produtos.
Extrativismo sustentável
“Em nosso jardim há florestas e pausas.” (Grande Sertão: Veredas)
O beneficiamento de plantas
nativas tão presente nas falas dos personagens é, desde os tempos imemoriais,
remédio, cosmética e comida para as populações tradicionais. Com o manejo
agroflorestal, os frutos são coletados e seu processamento é uma atividade desenvolvida
de maneira artesanal. Jatobá, pequi, araçá, buriti são algumas espécies nativas
do bioma que curam, alimentam e, principalmente, carregam consigo muitas
histórias.
O extrativismo é uma prática
sustentável tanto para a conservação da natureza quanto os povos que fazem das
matas nativas suas casas e sabem como utilizar dos seus recursos, mantendo-as
vivas e produtivas. Com profundo conhecimento sobre o uso sustentável, os
extrativistas vêm transmitindo, aprimorando e lutando por gerações, pela manutenção
desses saberes historicamente ameaçados e são hoje apontados como os guardiões
das florestas.
Seu Nego explica o processo de
extração do “vinho de jatobá”!
“Eu queria decifrar as coisas que
são importantes. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a
gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder.” (Grande Sertão: Veredas)
Nativa das florestas tropicais do
continente americano, o jatobá do Cerrado chega a medir vinte metros .
Conhecida também como jutaí, copal, jataí entre muitos apelidos de um nome que
vem do tupi “vataiwa”, que significa fruto de casca dura. Muito utilizado na
medicina popular, do jatobá não se desperdiça nada. Do seu tronco é extraída a
seiva (Hymenaea courbaril), conhecida popularmente como “vinho de jatobá” e,
tradicionalmente, é consumida pelo povo do Cerrado para dar vitalidade e
energia corporal.
No sertão, por exemplo, é raro
encontrar uma árvore de jatobá próxima a alguma comunidade que não esteja sendo
manejada para a extração desse bálsamo, provavelmente o remédio tradicional
mais utilizado por este povo tão sabido.
Ewtratistas coletam pequi para processar e beneficiar na CooPeruaçu (Foto: André Dib/WWF-Brasil)
Seja no núcleo da Chapada Gaúcha,
de Pandeiros ou Peruaçu, o extrativismo divide espaço com a lavoura, a
agrofloresta e com instrumentos para produção de cestarias e esteiras de folhas
de buriti. É comum as comunidades terem uma casa de farinha de uso coletivo e
um espaço para produzir melaço, rapadura e cachaça. Além dessas atividades, a expedição
passou pelas Oleiras do Candeau, no município de Cônego Marinho (MG),uma
pequena localidade onde a maioria das mulheres trabalha com o artesanato em
barro. Lá elas têm um galpão onde realizam modelagem, tintura e queima das
peças cerâmicas.
Nesse rincão do Brasil, milhares
de pequenos agricultores aproveitam as cascas das árvores do Cerrado, a resina
do tronco, frutos, folhas, sementes para complementar a renda familiar em um
momento que a população local sofre com a seca e é vítima do desmatamento.
Sertão sem veredas
“Sertão é onde manda quem é forte,
com as astúcias. Deus, mesmo, se vier, que venha armado.” (Grande Sertão:
Veredas)
O Cerrado já perdeu metade de sua
vegetação original e, dos biomas brasileiros, este é o que registra o maior
ritmo de desmatamento. O que quer dizer que, se esse ritmo for mantido até
2050, haverá o maior processo de extinção de espécies de plantas já registrado
na história, com três vezes mais perdas de flora do que houve desde 1500,
segundo a revista Nature Ecology and Evolution. Para se ter uma ideia, entre
julho de 2013 e agosto de 2015, o Cerrado teve mais de três vezes o tamanho do
Distrito Federal devastado (18.962,45 km²), segundo dados do Ministério do Meio
Ambiente.
Da mesma forma, o Mosaico Sertão
Veredas Peruaçu tem sofrido impactos do agronegócio. Um estudo do WWF-Brasil registra
que 37% da região do Mosaico está ocupada pelos plantios de soja, capim, milho,
eucalipto, produção de gado, ou seja, as paisagens descritas por Guimarães Rosa
estão sendo duramente alteradas. Outro fator preocupante é o alto índice
de queimadas que, somente em 2017, destruíram mais de 600 hectares na Área de
Proteção Ambiental Cavernas do Peruaçu, deixando veredas em cinzas.
A degradação do bioma não
significa apenas destruição das veredas, das árvores futíferas e extinção de
espécies vegetais e animais pela fragmentação das áreas naturais, significa
também aumento nas emissões de gases de efeito estufa do país, o exaurimento de
um modelo produtivo insustentável e ameaças às comunidades tradicionais e
indígenas associadas.
Não é apenas a população local a
afetada pela destruição, mas o país como um todo. Nove em cada dez brasileiros
consomem energia elétrica produzida com as águas do bioma. O problema do
Cerrado é real e pode impactar a vida de todos os brasileiros.
WWF-Brasil pelo Sertão e pelas veredas
Em um contexto mais regional,
desde 2010, a organização atua no Mosaico Sertão Veredas Peruaçu (MSVP),
alavancando benefícios para o meio ambiente, as populações locais e espécies
ameaçadas.
Três cooperativas
agroextrativistas foram criadas e fortalecidas, mais de 2.200 famílias
beneficiadas em cerca de 200 comunidades e mais de 500 toneladas de produtos
agroextrativistas produzidos anualmente. Também apoiou a primeira fazenda da
região a ser certificada pelo Programa Nacional de Boas Práticas Agropecuárias
(BPA) da Embrapa, além de que contribuiu para o cadastramento de 10 mil
propriedades no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e para a gestão das UCs do
Mosaico, realizando capacitações dos gestores, disponibilizando ferramentas
para o monitoramento da região e apoiando as reuniões dos Conselhos Consultivos
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas.
“Acreditamos que o extrativismo é
imprescindível para manutenção da biodiversidade e da cultura tradicional dos
povos que vivem neste bioma tão ameaçado. Com o incentivo à atividade, vimos o
movimento de jovens, que tinham mudado para São Paulo, retornarem para suas
terras, já que lá passa a oferecer perspectiva futura de trabalho e renda para
a nova geração.” (Julio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado
Pantanal, do WWF-Brasil)
Com a criação e o fortalecimento
da Cooperativa Regional de Produtores Agrissilviextrativistas Sertão Veredas,
na Chapada Gaúcha, da Cooperativa dos Pequenos Produtores Agroextrativistas de
Pandeiros (Coopae), no núcleo Pandeiros, e da Cooperativa dos Agricultores
Familiares e Agroextrativistas do Vale do Peruaçu (Cooperuaçu), no Peruaçu, já
foi possível alavancar muitos resultados na produção sustentável e
comercialização dos frutos do Cerrado e derivados - doces, farofa, óleo -
regionalmente em Januária e Montes Claros, como também nacionalmente, casos de
Belo Horizonte, Brasília e no Mercado de Pinheiros, em São Paulo, no box dos
biomas. Iniciativa que conta com a parceria da Central do Cerrado, Instituto
Atá, do chef Alex Atala, e da Prefeitura de São Paulo. Outro destaque são é o
sucesso de quatro remessas do pequi ao Japão.
Isso só está sendo possível com as
importantes vitórias dos últimos tempos, como a construção de uma sede e de
unidades de beneficiamento de frutos nativos, graças ao apoio do WWF-Brasil,
e até a compra de um caminhão. Uma outra conquista é a associação de expressivo
número de mulheres, de indígenas Xacriabás e quilombolas .
De onde viemos, para onde vamos, quem somos
Nesse cenário, palco do Grande
Sertão: Veredas, Guimarães Rosa visualizou a marcante simbiose do povo
brasileiro, onde as influências se encontram e se recriam, costumes e tradições
de variadas fontes culturais são impressas nos hábitos alimentares, no
artesanato, nas crenças e nas festas populares. São estas referências que
permitem entender o encontro desses diferentes povos, e a gênese do Brasil.
A presença dessa cultura está nos
pequenos detalhes da vida cotidiana dos povos e comunidades que hoje vivem,
criam e celebram a vida no Grande Sertão.
“Toda vez que a gente quer alguma
coisa, e não sabe o quê, então é porque a gente está é com sede dum bom copo
d’água, ou carecendo de ouvir música tocada.” (Grande Sertão: Veredas)
A festa católica chamada de folia
de reis é um marco na tradição cultural do sertão. Ela acontece entre os dias
25 de dezembro e seis de janeiro, celebrando a visita dos os três reis magos
Melchior, Baltasar e Gaspar ao menino Jesus. É no período natalino que se ouve
o som de caixa, pandeiro, violão, cavaquinho, rabeca, rapa-pau e tantos outros
instrumentos que acompanham o coro dos foliões nos rituais de saudação da
lapinha - o presépio com o menino Jesus.
Na folia, um cortejo formado por
cantadores, instrumentistas, reis e palhaços, caminha em festa até a casa do
chamado do ‘’imperador’’, que receberá a benção da folia e organizará a festa
em homenagem aos reis. Muitas vezes a folia vem acompanhada de um grupo de
mulheres que entoam cantos e danças.
Típico das manifestações da cultura
popular brasileira, os fazedores dessa arte nunca sabem ao certo como explicar
de onde vieram e como foram criadas as danças e cantos que executam, o que
sabem apenas é que esses são momentos de intensa felicidade e realização
individual e coletiva, o bastante para que sigam realizando suas festas e
recriando suas tradições através das gerações.
Expressão cultural do Sertão
Ficha Técnica
Realização WWF-Brasil
Maurício Voivodic Diretor
executivo
Julio César Sampaio Coordenador
do Programa Cerrado Pantanal
Kolbe Soares Analista de
Conservação do Programa Cerrado Pantanal
Letícia Campos Comunicação do
Programa Cerrado Pantanal / Produção e texto
Produção COMOVA
Gustavo Amora Produção
Executiva
Debora Herszenhut Pesquisa e
texto
Carolina Nogueira e David Alves
Matos Revisão de texto
Bruna Daibert Ilustrações
Matheus Caetano Edição de
vídeos
Cacai Nunes Trilha Sonora
Equipe de Vídeo: Loic Wirth (Dir.
Fotografia), Amandine Goiaboult (Som), Debora Herszenhut (Ass. Direção), David
Alves (Ass. Fotografia), Arcanjo Daniel (Ass. Produção), Gustavo Amora e Sílvio
Cohen (Produção Executiva do projeto).
Fotos: André Dib/WWF-Brasil;
Bento Viana/WWF-Brasil; Debora Herszenhut/COMOVA; Pedrinho Fonseca.
Agradecimentos: Comunidades,
cooperativas e instituições parceiras do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu
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