Os dois volumes
da Antologia do Folclore Brasileiro, de Luís da Câmara Cascudo, formam um
painel sem similar sobre aspectos do folclore e da etnografia brasileira,
através da reunião de cem textos de autores brasileiros e estrangeiros, vários
deles de acesso extremamente difícil.
No prefácio à obra, Cascudo explica seu objetivo:
"apresentar os aspectos mais vivos do Povo brasileiro através de quatro
séculos", ajustado ao conceito de folclore como "uma ciência da
psicologia coletiva", com finalidade em psiquiatria, sociologia, política,
religião. Os depoimentos começam quando o Brasil ainda amanhecia, narrados por
viajantes estrangeiros, indo até os estudiosos brasileiros do século XX. Que
viagem fabulosa! O leitor pode partilhar a surpresa de Gaspar de Carvajal, em
1541, ao assistir o combate de seus companheiros com as amazonas; acompanhar o
terror de Hans Staden, prisioneiro dos índios, pronto a ser devorado; os
fantasmas noturnos que apavoravam os índios, segundo o depoimento de Anchieta;
a dança de guerra dos tupinambás, narrada por Jean de Léry. Nos séculos XIX e
XX, com o país povoado e desenvolvido, mas asperamente pitoresco a olhos de
estrangeiros, sobretudo europeus, o leitor se delicia com a malhação do Judas,
testemunhada por Debret; as seduções do lundu, dança presenciada por Tollenare;
Spruce ouvindo, deliciado, o canto do uirapuru. Não menos interessante, os
autores brasileiros estudam lendas, crenças, superstições, pesquisam os
apelidos, registram quadrinhas populares, ditados, feitiços e desafios, narram
vaquejadas, analisam adivinhas, danças típicas, a alimentação do homem do povo,
refletem sobre o inconsciente folclórico, numa fantástica viagem de mais de 450
anos pelo imaginário, crenças e terrores do homem brasileiro.
Texto extraído
de: Global Editora
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