Examinando um
período abrangente, que se inicia nos primeiros contatos realizados pelos
colonizadores portugueses e espanhóis com o continente americano, até o século
XVI, Visão do Paraíso inaugura o ensaísmo sobre o imaginário do colonizador. O
livro, editado pela primeira vez em 1959, antecipou a historiografia das
mentalidades ao estudar os mitos edênicos que acompanharam as narrativas dos
descobrimentos e da colonização da América. Na época de seu lançamento,
predominava o cunho econômico-social dos estudos, mas Sérgio Buarque de Holanda
recompôs a concepção paradisíaca que os descobridores tinham do Novo Mundo,
desenvolvendo uma abordagem de longa duração, cujos efeitos se fazem sentir até
os dias de hoje. O diálogo estabelecido com a historiografia europeia,
acompanhado de um domínio amplo das fontes documentais que retratam as visões
idílicas do continente americano, permitiu ao autor realizar uma comparação
particularmente original entre a colonização portuguesa e a espanhola da
América. O autor nos mostra como as descrições do Novo Mundo produzidas pelos
conquistadores castelhanos estão repletas de elementos fantásticos e
correspondem fielmente às temáticas edênicas, enquanto, no caso português, o
pragmatismo lusitano assume o lugar da imaginação criadora, assegurando às
visões do Paraíso um espaço limitado na América portuguesa. Nas palavras de
Sérgio Buarque: "todo o mundo lendário nascido nas conquistas castelhanas
e que suscita eldorados, amazonas, serras de prata, lagoas mágicas, fontes de
Juventa tende antes a adelgaçar-se, descolorir-se ou ofuscar-se, desde que se
penetra na América lusitana". Esta nova edição traz um caderno de imagens
com reproduções de documentos e fotografias do acervo pessoal do autor, além de
posfácios inéditos dos historiadores Laura de Mello e Souza e Ronaldo Vainfas.
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