Eu queria
decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de
sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo
e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao
suceder. O que induz a gente para más ações estranhas, é que a gente está
pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe! –
Guimarães Rosa
O objetivo
deste trabalho é estudar as relações entre os signos textuais e visuais na
construção de uma narrativa do sertão no livro A João Guimarães Rosa (1969) da
fotógrafa Maureen Bisilliat. O livro contém fotografias das paisagens e
habitantes do norte de Minas Gerais acompanhadas de fragmentos do livro Grande
Sertão: veredas de Guimarães Rosa, que atuam como guia para uma ressignificação
das pessoas e locais retratados. Considerando a nação na perspectiva de Stuart
Hall e Homi Bhabha, como um sistema de representações sociais que
constituem um tecido de múltiplas narrativas e tendo em foco a identidade
nacional brasileira, que tem no sertão uma de suas mais poderosas
representações, buscase compreender como a fotografia de Bisilliat interage com
os textos de Rosa na construção de uma narrativa de identidade do sertão. A
partir de Philippe Dubois e Boris Kossoy, discute-se a fotografia
enquanto possuidora de uma narrativa própria, que em Maureen Bisilliat,
contribui para construir uma noção de identidade sertaneja/nacional. Na análise,
os elementos que compõe a narrativa de sertão em Grande sertão: veredas foram
identificados e classificados conforme a Análise de Conteúdo de Laurence Bardin. Com base na semiótica de Charles S. Peirce e no mapa
metodológico proposto por Lúcia Santaella executou-se a análise dos
signos fotográficos em suas dimensões icônicas e, em posse dos parâmetros
estabelecidos pelas análises de conteúdo e semiótica, foi estabelecida uma
relação entre os signos textuais roseanos e os signos visuais/textuais da obra
de Maureen Bisilliat. Observou-se, assim, que a fotógrafa realiza uma
iconização das imagens, a partir dos altos contrastes entre luz e sombra e do
acréscimo do texto de Rosa, que modifica o seu significado. Além disso,
percebeu-se a presença de um discurso sobre o sertão que se assemelha ao
historicamente construído, em que as características negativas deste se
relacionam a seu isolamento e atraso, enquanto as positivas indicam
possibilidade da superação da condição sertaneja.
Para acessar a dissertação na íntegra:
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