terça-feira, 15 de junho de 2021

Fotografia e Literatura: os signos de uma narrativa do sertão no livro "A JOÃO GUIMARÃES ROSA” da fotógrafa Maureen Bisilliat

 

Eu queria decifrar as coisas que são importantes. E estou contando não é uma vida de sertanejo, seja se for jagunço, mas a matéria vertente. Queria entender do medo e da coragem, e da gã que empurra a gente para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. O que induz a gente para más ações estranhas, é que a gente está pertinho do que é nosso, por direito, e não sabe, não sabe, não sabe! – Guimarães Rosa
 
O objetivo deste trabalho é estudar as relações entre os signos textuais e visuais na construção de uma narrativa do sertão no livro A João Guimarães Rosa (1969) da fotógrafa Maureen Bisilliat. O livro contém fotografias das paisagens e habitantes do norte de Minas Gerais acompanhadas de fragmentos do livro Grande Sertão: veredas de Guimarães Rosa, que atuam como guia para uma ressignificação das pessoas e locais retratados. Considerando a nação na perspectiva de Stuart Hall e Homi Bhabha, como um sistema de representações sociais que constituem um tecido de múltiplas narrativas e tendo em foco a identidade nacional brasileira, que tem no sertão uma de suas mais poderosas representações, buscase compreender como a fotografia de Bisilliat interage com os textos de Rosa na construção de uma narrativa de identidade do sertão. A partir de Philippe Dubois e Boris Kossoy, discute-se a fotografia enquanto possuidora de uma narrativa própria, que em Maureen Bisilliat, contribui para construir uma noção de identidade sertaneja/nacional. Na análise, os elementos que compõe a narrativa de sertão em Grande sertão: veredas foram identificados e classificados conforme a Análise de Conteúdo de Laurence Bardin. Com base na semiótica de Charles S. Peirce e no mapa metodológico proposto por Lúcia Santaella executou-se a análise dos signos fotográficos em suas dimensões icônicas e, em posse dos parâmetros estabelecidos pelas análises de conteúdo e semiótica, foi estabelecida uma relação entre os signos textuais roseanos e os signos visuais/textuais da obra de Maureen Bisilliat. Observou-se, assim, que a fotógrafa realiza uma iconização das imagens, a partir dos altos contrastes entre luz e sombra e do acréscimo do texto de Rosa, que modifica o seu significado. Além disso, percebeu-se a presença de um discurso sobre o sertão que se assemelha ao historicamente construído, em que as características negativas deste se relacionam a seu isolamento e atraso, enquanto as positivas indicam possibilidade da superação da condição sertaneja.


Para acessar a dissertação na íntegra: 


Nenhum comentário:

Postar um comentário